ENTREVISTA COM LUÍS MARTINS
por Pedro Azevedo"Guetov" e Pedro Custódio"Toy Marafado"
O Blog do Portimonense recebeu a visita do Prof.Luís Martins numa bonita manhã que se transformou em tarde e na qual o tempo foi passando rapidamente. A conversa fluiu com grande naturalidade. Luís Martins, excelente comunicador, respondeu a todas as perguntas que lhe foram colocadas, abordando assuntos de grande interesse. Entre garfadas num belo bife de peru e salada(faça-se dieta que a época é de férias!!!), o Treinador do Portimonense abordou o passado, o presente e aquilo que o motiva para o futuro.
Mudança para Portimão
BdP: Uma das perguntas mais frequentes é o que leva um Treinador a mudar-se da Academia do Sporting para um projecto num clube a disputar a Liga Vitalis e envolto em problemas, alguns dos quais bem graves e de difícil resolução?
Ao ser questionado pela opção Portimonense em detrimento da Academia do Sporting, em que abandonou um projecto de sucesso para treinar um clube sem Estádio, com uma Direcção recém empossada e com uma situação difícil na tabela classificativa, Luís Martins surpreendeu-nos ao referir uma ligação afectiva ao Portimonense e à cidade de Portimão.
LM:"Senti que tinha chegado ao fim um ciclo. O meu trabalho nas camadas jovens do Sporting tinha atingido o seu termo. Saí sobretudo por uma convicção pessoal, pois os dirigentes do Sporting queriam continuar a contar com o meu trabalho, que teve sucesso para além dos resultados desportivos (2 títulos de Campeão Nacional e 5 de Campeão Distrital) já que o fundamental foram os aspectos relativos à formação dos jogadores. Já tinha tido outras propostas para sair mas a proposta do Portimonense foi a primeira que considerei."
Para esta decisão muito contribuiu a opinião de Mário Lino, Director dos Juniores no Sporting, surgindo uma história deliciosa...
Luís Martins ao pedir um conselho a Mário Lino este disse-lhe "aceita Luís, o Portimonense é um clube muito especial. Quando estava a treinar o Portimonense desci de Divisão em 1978 e tinha tudo acertado para ir treinar outro clube mas ao chegar a casa tinha cerca de 2000 pessoas a pedirem-me para ficar. Não pude dizer que não!!! Na época seguinte fomos Campeões e voltámos à 1ªDivisão. Portimão e os Portimonenses ficaram para sempre no meu coração…"
Portimão aparece muito cedo na vida de Luís Martins, como um local de eleição para gozar umas boas férias. "Vi muitos jogos do Portimonense quando em redor do Estádio não havia um único prédio", afirma.
Nivaldo, Cadorin, Damas, vários são os jogadores que recorda. Significativo o facto de ter assistido, no Estádio do Portimonense, ao único desafio europeu que o Portimonense efectuou. No dia 18 de Setembro de 1985, vitória sobre o Partizan por 1-0, com o tento a ser apontado por Pita. Luís Martins, na altura ainda bem jovem pensou para si próprio: "Um dia gostava de treinar este clube…"
A opção pelo Portimonense foi fácil por tratar-se de "um clube histórico no Futebol Português e apresentar um projecto credível de reactivação do seu poderio."
BdP: Desde que chegou a Portimão que se ouve falar da hipótese F.C.Porto e que assim estaria a "fintar" uma hipotética cláusula que o impediria de trocar o Sporting pelo F.C.Porto?
LM:"É mentira! Não tenho nem nunca tive qualquer cláusula no contrato que me impedisse de assinar fosse por que clube fosse. Fui abordado há uns anos atrás pelo F.C.Porto mas não houve entendimento e nada mais se passou. Assinei pelo Portimonense um contrato válido por ano e meio e pretendo cumpri-lo."
Treinador de Formação
BdP: Que projecto a nível da formação tem para aplicar no Portimonense?
LM:"O Portimonense não pode tomar como referência o Sporting, pois tratam-se de realidades bem diferentes. Inicialmente há que dotar o clube de estruturas para dar resposta aos escalões de formação. O Presidente e a sua Direccção procuraram desde logo dotar o clube de estruturas, daí os melhoramentos no Campo Major David Neto e dos Dois Irmãos, que não tinham o mínimo de condições para a prática de Futebol.
O objectivo passa sobretudo em formar todos os treinadores das camadas jovens do clube de modo a que desde muito cedo se faça um apoio sustentado às crianças. No entanto a nível das escolas e infantis tive a oportunidade de verificar que se faz um trabalho de grande qualidade no Portimonense e que nos outros escalões com a melhoria das infra-estruturas poderemos seguir o processo de desenvolvimento dos jovens jogadores , porque há vontade e capacidade para isso no Departamento de Formação.
Enquanto no Sporting o objectivo passa por formar para vender para o estrangeiro, no Portimonense passa sobretudo por criar condições para que possam subir aos seniores todas as épocas 1/2 jogadores que possam lutar pela titularidade, à semelhança do Ruben e do João Vítor. É uma tarefa muito difícil pois os clubes ditos grandes desde muito cedo acompanham os jogadores que se destacam e vêem buscá-los relativamente cedo, à semelhança do que aconteceu com o João Moutinho.
Actualmente temos bons valores nos escalões de formação. Fábio Sapateiro, Christian Soares e outros que reconhecemos serem bons valores e com condições para se afirmarem no Portimonense, desde que os clubes grandes não os venham buscar…
O projecto para a reformulação do futebol juvenil do Portimonense é da autoria do Prof.Vítor Maçãs que deixa agora de pertencer à equipa técnica passando a consultor do clube. O Vítor tem toda a sua vida estabelecida em Vila Real estando ligado à U.T.A.D. (Universidade de Trás os Montes e Alto Douro) tornando-se assim complicado continuar a desenvolver o seu trabalho em Portimão."
BdP: Como tem sido o seu percurso de Treinador até chegar a Portimão?
LM:"Normalmente o meu nome aparece sempre ligado à formação e ao Sporting. Contudo e para além de ter trabalhado nos escalões de formação do Sporting e do Belenenses também fui treinador principal no Coruchense e no Odivelas. Nestas duas realidades bem diferentes pude aprender bastante e ser confrontado com outro tipo de problemas, barreiras e formas de trabalhar. Lidar com atletas amadores, com realidades financeiras totalmente diferentes, sobretudo daquilo que se passa no Sporting fez-me crescer enquanto treinador e pessoa. O Luís Martins não é de forma alguma apenas um treinador da formação e é esta ideia que gostaria também de partilhar com todos aqueles que não conhecem tão bem a minha carreira."
Época de Sofrimento
Blog do Portimonense: Que ambiente encontrou no balneário?
LM: "Encontrei um grupo unido mas muito pressionado pelas derrotas. A vontade de vencer era grande mas falhava-se na defesa e no ataque de uma maneira inexplicável. A pressão era atenuada pelos ordenados em atraso. Quando os ordenados foram regularizados as derrotas continuaram e a pressão aumentou, porque a vontade de trabalhar e de vencer sempre existiu, mas o processo de treino estava muito afectado na sua essência o que limitou decisivamente as nossas ambições."
BdP: Qual a sua relação com a Direcção presidida por Fernando Rocha?
LM: "A relação entre todos os elementos do clube é excelente. Todos puxam para o mesmo lado e todos á sua maneira têm contribuído para o desenvolvimento do Clube e na verdade ele está a desenvolver-se. O Presidente é uma excelente pessoa sempre preocupado em honrar os compromissos assumidos. Não só com a Direcção mas também com os restantes funcionários existe um fantástico relacionamento, desde o Dr. Carranca, passando pelo Amílcar Delgado e sem esquecer o “eterno” massagista José Manuel Proença.
O “Alfarroba” é uma figura carismática e excelente companhia ao jantar."
BdP: Transpareceu sempre grande tranquilidade no banco mesmo quando a manutenção parecia uma tarefa impossível. Que mensagem transmitia aos jogadores no balneário?
LM: "Foi uma época muito complicada para nós, pois tivemos muitas condicionantes. Jogámos toda a primeira volta no Estádio Algarve e muitas vezes ao planificar os treinos nem sabíamos onde iríamos treinar, pese embora o esforço da Direcção, que tem procurado dar as melhores condições aos profissionais do Portimonense. Dois aspectos marcaram na minha opinião a temporada. O primeiro aconteceu depois de perdermos nos Açores, com um penalty inexistente (1-2 com o Santa Clara). Ao regressarmos ao Continente íamos todos morrendo numa aterragem muito atribulada. Se o grupo já estava com a moral em baixo ainda mais céptico ficou, como acreditando em alguns factores sobrenaturais que os estavam a empurrar para a descida. Uma semana após este episódio dá-se a descoberta de um problema cardíaco no Maxi. O episódio ficou religiosamente guardado para defender o jogador e só após a intervenção cirúrgica e o resultado da mesma ser positivo a notícia foi tornada pública. Como forma de reconhecimento o Maxi disse que permaneceria no clube com o qual teria para sempre uma dívida de gratidão. Após mais este acontecimento o grupo teve mesmo que estar muito unido para ultrapassar tamanhas contrariedades. Tínhamos falhas incríveis nos jogos e em casa uma malapata inexplicável, mas nunca deixei de acreditar que no final conseguiríamos a manutenção. Estes dois momentos vividos por todo o grupo de trabalho de uma forma muito intensa e muito particular foram na minha opinião os que mais nos marcaram ao longo da época que agora terminou. A minha opção pela postura mais calma e compreensiva teve em conta estes factores e o estado psicológico do grupo muito marcado por episódios de cariz negativista."
BdP: Nunca se desculpou com as arbitragens nem com outros factores para justificar alguns resultados menos bons?
LM: "Sabia que não ganharia nada em apontar críticas às arbitragens e sinceramente houve algumas muito más principalmente na nossa própria casa (Varzim, Penafiel, Vizela). Algumas péssimas exibições como a do Estoril por exemplo acontecem numa altura em que as ausências por castigo do Rui Baião e do Pintassilgo se ficaram a dever a uma péssima prestação do árbitro no jogo com o Varzim em casa e que nos penalizou para além desse. Para além disso outros jogadores habituais titulares estavam de fora por lesão. Parecia a dado momento que estávamos a lutar contra tudo e contra todos. De qualquer das formas este exemplo não justifica de forma alguma tudo aquilo que de menos bom fizemos ao longo da temporada. Eu tenho a máxima responsabilidade nisso como é evidente, mas também não assumo a total responsabilidade, já que muitas vezes as explicações para o insucesso no resultado desportivo derivou de outros factores externos á minha intervenção."
BdP: Fora de portas o Portimonense apresentou muitas vezes um futebol consistente e regular. Como visitado venceu apenas duas vezes! Como se explica esta fobia de jogar em casa? Pressão dos adeptos? E que trabalho irá ser feito para a próxima temporada a este nível?
LM: "O grande problema desta temporada foi vencer em casa. Os jogadores entravam muito pressionados e sofríamos golos relativamente cedo (com Varzim, Penafiel, Olivais e Moscavide,....), não conseguindo dar a volta a um resultado negativo. Fisicamente a equipa nem estava mal pois conseguíamos reagir e empatámos muitas vezes no final das partidas. Para a próxima temporada seria muito difícil com o mesmo grupo de trabalho conseguir ultrapassar esta dificuldade pelo que posso concluir que seria melhor formar um plantel com jogadores novos até porque o plantel deste ano falhou clamorosamente em muitas partidas, nomeadamente nos momentos chave e sem razão forte que justificasse isso."
BdP: A vitória em Vila do Conde foi o momento decisivo na manutenção?
LM: "Estávamos num dos lugares de despromoção e levámos toda a semana com a invencibilidade do Rio Ave há 17 jornadas, que vencendo o Portimonense garantiriam a subida… Utilizámos tudo isso a nosso favor. Enviámos uma bola ao poste nos primeiros minutos e depois Braíma marcou. Todos em conjunto estivemos muito bem e saímos com uma vitória muito saborosa. No entanto não foi o melhor dos nossos jogos. Curiosamente o nosso melhor jogo foi com o Vizela em Portimão. Jogámos muito bem, marcámos um golo limpo, que injustamente nos foi anulado e empatámos! Em Matosinhos, com o Leixões, reconheço que fomos felizes na forma como mantivemos o nulo mas em várias partidas acabámos por de uma forma ou de outra acabar por ser penalizados por alguma falta de sorte ou de acerto. E depois quando se desperdiçam escandalosamente várias situações de golo feito tudo se torna muito mais complicado e isso em casa aconteceu sistemáticamente."
BdP: Os reforços de Dezembro foram importantes?
LM: "Pese as limitações financeiras a Direcção fez um esforço imenso e investiu em contratar o Maxi, o Michael e o Martín. O Nuno Coelho e o João Pedro foram emprestados pelo FC.Porto sem custos para o Portimonense. O Michael foi importante para nós em algumas partidas. O Maxi é um homem com H bem grande. Depois dos problemas cardíacos que lhe foram diagnosticados e depois de ser operado voltou com muita força e no final de época prestou-se a ficar sem se preocupar em olhar para o contrato. João Pedro marcou golos importantes, no entanto a atitude que teve na última partida iria condicionar muito a sua relação com os adeptos se ele ficasse no plantel para a próxima temporada. Esperava mais do Nuno Coelho mas uma arreliadora lesão impediu-o de render muito mais. Sempre que jogou quando se apresentava em melhores condições acabou por corresponder. Martín foi a única das contratações de Dezembro que podemos considerar falhada. Não correspondeu de todo! Uma palavra de apreço para Miran, martirizado pelas lesões, deu tudo o que tinha em prol do clube nas últimas jornadas mesmo nunca se apresentando nas melhores condições. Um excelente profissional. Aliás, tal como Eriverton, os nossos 2 brasileiros deixaram-me muito boa impressão."
BdP: O que se passou em Guimarães?
LM: "Alguns jogadores não aguentaram a enorme pressão a que fomos submetidos nesse jogo e falharam de forma primária embora tenhamos de dar mérito ao nosso adversário que foi muito forte, não podemos deixar de assumir que estivemos péssimos nesse jogo. Na palestra no balneário disse aos meus jogadores que poderíamos sair de Guimarães com a permanência quase garantida mesmo perdendo. Tínhamos 6 golos de vantagem relativamente ao Olivais. Perdemos toda a vantagem que tínhamos!"
BdP: A seguir uma difícil deslocação a Barcelos?
LM: “Fizemos uma boa partida. Os jogadores recuperaram bem da goleada de Guimarães e podíamos ter garantido a manutenção se o Rodolfo Lima, o Maxi e o João Pedro não falham oportunidades flagrantes na cara do guarda-redes do Gil Vicente. Quase fomos ao desespero…”
BdP: Derrota na última jornada com o Gondomar em Portimão, no entanto o objectivo foi cumprido. Depois de uma temporada tão difícil como se sentiu ao ver alguns adeptos apuparem a equipa e brindarem-na com lenços brancos depois de confirmada a manutenção?
LM: "Para quem já foi brindado com lençóis em Alvalade (risos). Os adeptos tinham as suas razões. A exibição foi péssima, não jogámos nada e para agravar tudo isto o incidente com João Pedro, que não deveria ter acontecido, mas aconteceu. No entanto a conquista da Manutenção tem para mim um significado muito superior a tudo o que tinha vivido até aqui. Foram muitas as contrariedades ao longo da temporada e mesmo assim conseguimos a manutenção e vencer a Taça do Algarve."
BdP: Para muitos o plantel da temporada anterior era um dos melhores dos últimos anos? O que falhou, embora se saiba que não foi você que o formou?
LM: "Se olharmos aos nomes com certeza que tínhamos um bom plantel, no entanto muitos destes jogadores não têm rendido o que deles se espera ao longo das suas carreiras. Muitos deles nem sequer aguentavam a pressão! Nos juniores do Sporting orientei jogadores que lidavam muito melhor com a pressão dos grandes jogos do que alguns que orientei nesta última temporada… Não estou a dizer com isto que eram maus profissionais, antes pelo contrário. Reafirmo que tínhamos um bom grupo de trabalho no que toca ao comportamento, agora são necessárias outras características e outros factores que penso que serão uma realidade na próxima temporada.
Fomos afectados por inúmeras situações ao longo de toda a época. Jogadores com problemas de saúde, com problemas do foro pessoal…. Tudo nos aconteceu, inclusivé íamos todos morrendo ao regressar dos Açores!
A partir do momento em que assumi o comando do Portimonense não permiti qualquer tipo de desculpas com a anterior equipa técnica. O treinador sou eu e, como tal, se descêssemos a responsabilidade seria minha!"
BdP: Transpareceu pela imprensa que teria problemas disciplinares com alguns jogadores no balneário. O que se passou com Rui Baião e Titi?
LM: "O grupo foi sempre muito unido e nunca tive nenhum problema disciplinar no balneário. O Rui saiu devido a questões pessoais e não seria benéfico nem para ele nem para o grupo permanecer mais tempo no clube. Pelo que chegámos a acordo com ele para sair.
Ao chegar a Portimão procurei saber qual era o jogador de referência nos Júniores para o poder integrar nos seniores. Disseram-me que era o Titi. Ele foi integrado no plantel sénior mas não cumpria com as normas e as regras do clube, chegando sistematicamente atrasado aos treinos. Como não cumpria os regulamentos acabou por ser afastado."
BdP: Teria saído se o Portimonense tivesse descido?
LM: "Tinha contrato por mais uma temporada e pela minha parte continuaria, mesmo que o meu vencimento baixasse tendo em conta que jogaríamos numa divisão inferior. O Presidente sempre disse que contava comigo, mas essa ponderação seria e será sempre feita defendendo os interesses do clube acima dos pessoais."
Próxima Época
BdP: Em consonância com a Direcção que objectivos terá o Portimonense para a próxima temporada? A exigência vai ser maior este ano pois vai fazer a pré-temporada e participar na formação do plantel?
LM: "Acima de tudo formar uma equipa que jogue melhor Futebol e que vença mais vezes. O grande número de dispensas justifica-se pelo facto de a equipa da época passada ter diversas condicionantes, nomeadamente o ter muitas dificuldades em vencer em casa. Como tal, achámos por bem reformular o plantel. A nossa maior obrigação é para com os adeptos. Queremos uma equipa que pratique um Futebol mais bonito e que possa ganhar mais jogos. A postura que tivemos nos jogos fora de portas é para manter e se possível melhorar. Temos que procurar vencer os jogos em Portimão, aproveitando o factor casa."
BdP: No plantel que está a formar o que está a privilegiar?
LM: "Temos muitas limitações financeiras. O Presidente é um homem de palavra e gosta de cumprir o que assume. Não temos a capacidade financeira de outros clubes mas cumprimos o que assumimos, o que ficou bem demonstrado na lista que foi divulgada dos clubes cumpridores. Quando o Presidente assumiu o clube muito do dinheiro que poderia ser aplicado na formação do plantel da próxima temporada teve que ser para pagar aos credores que entretanto foram aparecendo.
Pese as nossas limitações estamos a formar um plantel que na nossa perspectiva melhor se adequa à Liga Vitalis e às características do nosso Estádio. Pretendemos vencer o maior número possível de jogos mas sempre com os pés bem assentes no chão no que diz respeito à gestão. Se em Dezembro assim se justificar a Direcção do Portimonense fará um esforço no capítulo financeiro para reforçar e reajustar o plantel, mas apenas se estivermos em posição de lutar pela subida à Superliga."
BdP: Como analisa os reforços assegurados até ao momento?
LM: "O Miguel Ângelo conheço-o bem do Sporting. Trata-se de um central com largo futuro. Recusou propostas mais vantajosas do ponto de vista financeiro para se juntar a nós. O Mamadou e o Gonzalo são jogadores de estatura elevada. O Gonzalo tem lacunas na finalização, mas bem trabalhado poderá ser um jogador importante nos jogos intramuros. Nos jogos que visionei do Mamadou fiquei bem impressionado com a entrega ao jogo que ele demonstra. O Osvaldo conhecia-o dos juniores do Alverca. Andou pela Rússia a temporada anterior antes de ir para a Naval. É um jogador com uma personalidade muito forte e que me leva a afirmar que poderá vir a jogar a um nível muito superior. Carlos Manuel, conheço-o dos juniores do Belenenses. Joga em diversas posições e pode-nos ser muito útil. O Emídio Rafael e o Mário Felgueiras são jovens de largo futuro que vêm a título definitivo."
BdP: E jogadores por empréstimo?
LM: "Desde que sejam jogadores que constituam uma mais valia e desde que estejam dentro das limitações financeiras do Portimonense serão bem vindos. Mas entendo que não devemos apostar em ter muitos jogadores na situação de empréstimo. Quanto a nomes, por exemplo, Daniel Carriço seria muito bem-vindo."
BdP: E quanto a outras contratações?
LM: "Enquanto não estiverem assegurados vamos manter esses nomes no "Segredo dos Deuses", mas posso adiantar que temos várias alternativas para preencher os lugares que estão em aberto recorrendo ao mercado nacional. Está ainda prevista uma viagem ao Senegal que poderá resultar na vinda de dois jogadores que passarão sempre por um período de experiência."
Algumas Curiosidades
BdP: Como foi a adaptação a Portimão e como preenche os tempos livres?
LM: "No início ainda me inscrevi num ginásio para ajudar a descontrair e a aliviar alguma tensão mas acabei a dar por mim a chegar a casa e estar quase sempre a pensar no Portimonense e em tudo aquilo que me preocupava e queria resolver. O Portimonense derivado a toda a situação em que estava rodeado acabou por absorver por completo a minha vida. Mas não estou arrependido até porque atingimos aquilo que tinha sido proposto, a Manutenção. De resto convivo de muito perto com os elementos da minha equipa técnica e as suas famílias, almoçando e jantando juntos em inúmeras ocasiões."
BdP: Como decidiu tornar-se Treinador?
LM: "Foi um percurso natural até ter chegado a treinador. Joguei futebol enquanto jovem mas uma lesão acabou por me fazer afastar daquilo que mais gostava de fazer. Entrei no Isef (agora Faculdade de Motricidade Humana) e concluí a licenciatura em Educação Física. Mais tarde iniciei o Mestrado em Treino de Alto Rendimento que ainda não terminei derivado à vida de treinador e ao tempo que não tenho para me dedicar à tese. Desde muito cedo que a minha ideia era ser treinador de futebol e acabei por fazer um percurso absolutamente natural até atingir o meu objectivo."
BdP: Quem são as sua referências enquanto treinadores e jogadores?
LM: "Mário Lino é uma das minhas maiores referências. É importante nesta como noutras profissões não só a componente técnica ou as qualificações académicas mas também a postura, o trato, a componente humana, etc. Mário Lino é uma pessoa com quem aprendi muito enquanto técnico mas sobretudo como pessoa. É um grande amigo e alguém por quem nutro um carinho e um respeito muito grandes. Na faculdade tive a felicidade de ter como professores o Prof. Carlos Queirós e o Prof. Nelo Vingada. São duas grandes referências que me ajudaram a gostar ainda mais da minha profissão e são dois grandes nomes no que toca ao treino. Admiro muito Luís Figo e Zinedine Zidane enquanto jogadores e no que diz respeito a Diego Maradona reconheço a enorme qualidade enquanto executante mas não gosto mesmo nada daquilo que representa extra futebol. Não esqueço Cristiano Ronaldo e fico muito feliz por ter contribuído com o meu trabalho para o seu desenvolvimento."
BdP: Que opinião tem sobre as Selecções, sobretudo as mais jovens?
LM: "Infelizmente o modelo utilizado por Carlos Queirós e Nelo Vingada, que nos trouxe tão bons resultados, já não existe. Para além de terem formado excelentes jogadores, conquistaram títulos que marcaram toda uma geração e fizeram crescer o futebol em Portugal. Hoje já nada disso existe e tenho pena que assim seja. Penso que muito deveria mudar no que diz respeito às Selecções."
BdP: É adepto dos jogos de estratégia tipo Championship Manager ou Futebol Manager?
LM: "Não aprecio jogos de computador ou consolas. Reconheço que as bases de dados estão muito bem concebidas mas não as utilizo (risos)."
Leitor Assíduo do Blog do Portimonense
BdP: Que opinião tem do Blog do Portimonense? É leitor?
LM: "Quando passei a ter Internet na minha casa em Portimão passei a consultar assiduamente o Blog. Sigo com curiosidade o que os adeptos dizem e pensam. Muitas das vezes formulam opiniões sem estarem por dentro das situações e nós que temos um conhecimento mais aprofundado das coisas vemos as opiniões com um sorriso nos lábios. O facto de se tratar de um órgão independente, contrariamente ao site oficial do clube, torna-o mais interessante pois possibilita uma partilha de opiniões entre todos. Aceito as críticas que me são dirigidas com “fair-play” e vou continuar a consultar o vosso Blog. A Direcção também costuma acompanhar o Blog do Portimonense ."
Mensagem para os Adeptos
LM: "Continuem a apoiar o Portimonense e acreditem no nosso trabalho pois se em algum momento acharmos que estamos a prejudicar o clube seremos os primeiros a pedir para sair. Não sou perfeito, também erro mas vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ganharmos mais vezes e dar mais e muitas alegrias a todos os Portimonenses. Essencialmente sugiro aos muito adeptos "Marafados" que me vejam como um treinador empenhado e honesto que tentará o que puder e souber para proporcionar desenvolvimento ao PSC aproximando-o do lugar que merece no futuro, a Superliga, mas com condições para lá se manter e se afirmar e isso não pode nem deve ser amanhã, mas pode e deve ser num futuro próximo e que para isso todos os que gostamos do clube e da cidade temos de dar o nosso contributo positivo."
10 comentários:
Gostei de ler a entrevista, é certo que as perguntas foram leves e de fácil resposta.
Pelo que se tem visto, parece ser boa pessoa, e é mais que certo que percebe muito de futebol. Mas só isso não chega para ser um bom treinador.
Há que gerir os sentimentos de um conjunto de pessoas ao longo do ano, muito trabalho psicológico, e nestas divisões inferiores isso é muito importante.
Quando anunciaram Luís Martins como treinador do Portimonense teria preferido o "velho" Amílcar, mas tive que lhe dar o benefício da dúvida. Pedi a demissão dele no Estoril e mandei-lhe para muitos sítios, no entanto ele conseguíu a Manutenção e como tal temos que deixá-lo formar o plantel e responder por isso. Independentemente do Moscavide ter jogado uma bela merda na 2ªvolta conseguímos a Manutenção!! Vamos dar tempo ao Luís Martins e apoiar o Portimonense, se as coisas correrem mal logo estaremos aqui todos para criticar o que acharmos que tá mal. FORÇA LUÍS MARTINS!!! FORÇA PORTIMONENSE!!!
Está muito bem conseguida a entrevista,fui um critico das suas opções durante a epoca mas tb apologista de que se o Portimonense ficasse na liga vitalis ele tb devia permanecer,para poder fazer a equipa como ele bem a entende.Força Portimonense
Gostei da entrevista. Desejo as maiores felicidades ao Luis Martins, sobretudo enquanto estiver no cargo de treinador do Portimonense. :P
Miguel Menezes (miglã0)
Sócio Nº 1739
União !!! è tempo de União!!! muito bem!!! trabalhar e esperar para ver!!
Já não me lembrava do acidente nos Açores!!! realmente tudo nos aconteceu!!! sem estádio!!! Roubados!!!
Foi uma epoca negra que acabou bem!!! Vamos para a frente!!!
Apoiemos quem trabalha e demonstra responsabilidade!!!
Obrigado Guetov e Toy, estivesteis bem ou melhor muito bem!! ainda por cima desinteressadamente!!!!
Carlos Alves
Parabens, excelente entrevista.Quanto ao mister digo o que sempre se devia dizer aos treinadores,deixem trabalhar o homem,o que nao faltam sao exemplos de que com tempo e tranquilidade o trabalho dá frutos desde que haja competencia.VIVA O PORTIMONENSE.
Obrigado Mister por nos ter proporcionado o melhor momento da nossa curta existência. Foi muito bom vêr o nosso trabalho reconhecido por quem trabalha no Portimonense. Temos procurado dar a conhecer as pessoas que gerem, lideram ou jogam no Portimonense. Espero que consigamos conhecer e trazer aqui ao Blog o nosso Presidente Fernando Rocha e estar no arranque da nova temporada. Grande abraço para Todos os VERDADEIROS PORTIMONENSES!!!
Sempre acredirei no Mister , pois quem trabalha seriamente mais tarde colhe os frutos desse trabalho , acredito que neste 5 meses iniciais deram para conhecer bem a realidade do Clube e tambem do campeonato , na proxima época Mister vamos dar cartas . FORÇA OS VERDADEIROS PORTIMONENSES ESTÃO CONSIGO
Faço minhas as palavras do Toy Marafado. Nunca escondi a ninguém que uma das razões que me fizeram primeiro comentar neste blog e depois chegar a colaborador e administrador foi a aposta neste treinador, neste modelo de gestão, num novo conceito de formação. O Portimonense nunca esteve tão bem entregue e acredito nas pessoas e no projecto desta Direção e desta Equipa Técnica. Conhecer pessoalmente Luís Martins permitiu-me ficar ainda com melhor ideia e agradeço-lhe a oportunidade que nos concedeu. A próxima temporada com certeza trará melhores resultados desportivos e muitos sorrisos andarão na cara de todos os Portimonenses!!!
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