Michael Etulain, um Uruguaio que conquistou Portimão

Michael Etulain brilha em estádios repletos na América do Sul.

Depois de termos iniciado as nossas entrevistas com o Treinador do Portimonense, Luís Martins, resolvemos dar seguimento a esta iniciativa escolhendo um jogador do plantel profissional. A escolha recaiu naquele que foi considerado pelos leitores do Blog do Portimonense como o melhor jogador da temporada 2006/2007, o guarda-redes uruguaio, Michael Etulain.

Foi um dos reforços de Inverno, contratado para ajudar na luta pela permanência. Pode-se dizer que "Chegou, Viu e Venceu!", tendo imediatamente conquistado a titularidade e convencido todos, desde Equipa Técnica, Direção e Adeptos. Só falhou um jogo devido a lesão, precisamente o último frente ao Gondomar e foi um dos principais responsáveis por estarmos hoje na Liga Vitalis.

ENTREVISTA COM MICHAEL ETULAIN

por Pedro Azevedo "Guetov"

BdP: O Michael foi considerado pelos leitores do Blog do Portimonense como o melhor jogador do Portimonense na temporada passada. Nada mau para alguém que só chegou em Dezembro! Como chegou ao Portimonense? Já conhecia o clube?

ME: "Cheguei ao Portimonense atravês do meu empresário e porque o Mister Luis Martins gostou dos meus videos e da forma como jogava. Do clube apenas conhecia o nome e a cor da camisola."

BdP: O Portimonense viveu uma temporada dificílima. Em algum momento se arrependeu de ter vindo para este clube?

ME: "Não, nunca me arrependo das decisões que tomo relacionadas com trabalho."

BdP: A época passada não deu hipóteses ao Nuno nem ao Ivo. Esta temporada tem um concorrente de peso chamado Mário Felgueiras. O Portimonense talvez seja o clube da Liga Vitalis com melhores soluções para a baliza. Concorda com esta afirmação?

ME: "Concordo ,e é para isso que trabalhamos, para ser os melhores e para estarmos bem cada vez que tenhamos que jogar."

BdP: Sofreu cinco golos na estreia frente ao Sporting de Braga num encontro referente à Taça de Portugal e mais seis em Guimarães. Tal nunca lhe tinha sucedido na carreira. Mesmo assim recolheu sempre o apoio da Equipa Técnica e dos adeptos. Considera que o sector defensivo era um dos pontos fracos do Portimonense? Acha que este ano a equipa parece estar muito mais forte no que diz respeito ao sector defensivo?

ME: "O nosso ponto fraco era a situação na tabela. A ansiedade sentida por toda a equipa impedia-nos de melhorar, o que nos levava a cometer erros e a apresentar faltas de concentração que a um nível profissional não podem suceder. É precisamente no sector defensivo que esses erros são mais visíveis. Esta época as coisas mudaram e estamos a trabalhar com mais tranquilidade e mais confiança."

BdP: Falou-se em dada altura numa possível transferência para o Sporting de Braga. Houve alguma verdade nessas notícias ou tudo não passou de especulação? Chegou a ter outros convites para sair?

ME: "Falou-se em determinada altura disso , mas eu preferi não querer ser informado de que equipas se tratavam e a que nível seriam feitas essas transferências. Tive convites para sair mas para voltar para a Argentina e para o Uruguai. Como tenho contrato por mais uma temporada, apenas tomei conhecimento do interesse desses clubes pois sabia que não seria possível concretizar-se tal situação"

BdP: Está a viver a sua primeira experiência na Europa. Até agora tem valido a pena? Como foram as passagens pela Argentina e pela Bolívia?

ME: "Para mim valeu a pena ter conhecido um novo tipo de Futebol, agrada-me o facto das pessoas encararem o Futebol de uma forma diferente. A passagem pela Argentina foi muito boa em todos os aspectos. Em termos futebolísticos ter tido a possibilidade de jogar no País em que sem dúvida nenhuma se vive o futebol da forma mais apaixonante e que te leva a estar sempre a 150 % das tuas possibilidades é maravilhoso. A passagem pela Bolívia marcou a minha vida porque foi a primeira vez que saí do meu Pais, pela primeira vez afastei-me da minha família. Pude assim conhecer uma sociedade diferente da do meu País o que me levou a ver e a valorizar outros aspectos que fazem parte da vida. Quanto ao Futebol vou ficar eternamente grato a todos aqueles que na Bolívia me deram a possibilidade de jogar numa equipa grande, com história e desta forma me ter tornado alguém no Futebol. Porque foi na Bolívia que na realidade iniciei a minha carreira profissional."

BdP: Não há muito conhecimento em Portugal sobre o Futebol no Uruguai. Fale-nos do seu País, do Futebol uruguaio, dos adeptos e do Danúbio, o primeiro clube que o Michael representou.

ME: "O Uruguai é um pequeno País com três milhões de habitantes e que se encontra situado entre a Argentina e o Brasil. No que se refere ao Futebol foi o primeiro Campeão do Mundo, tendo repetido o feito por mais uma vez. Foi por duas vezes Campeão Olímpico, mas tudo isto faz já muito tempo. Depois de ter alcançado estes feitos tem estado afastado da discussão pelos primeiros lugares em jogos de Seleção no que diz respeito às Competições mais importantes. A nível de clubes tem tido boas e más prestações, mas também faz muito tempo que não consegue um título internacional de clubes, apesar de existirem jogadores uruguaios nas melhores Ligas do mundo e nas melhores equipas destas Ligas. Sendo um País com tão poucos habitantes não deixa de ser um feito digno de registo. Os adeptos que assistem às partidas de Futebol são poucos mas no Uruguai há quem diga que existem três milhões de treinadores porque cada pessoa sabe e opina de Futebol independentemente da profissão que tenha ou do local onde habite! O Danúbio é considerado como uma das Universidades do Futebol Sul-Americano. Do Danúbio saíram grandes jogadores ao longo dos últimos vinte anos como são os casos de Recoba, Forlan, Chevanton, Carini, Zalayeta, entre muitos outros que foram reconhecidos a nível Mundial. Eu joguei lá durante dezoito épocas, dos meus seis anos até aos vinte e quatro. Fui Campeão Nacional nas Camadas Jovens por sete vezes e Campeão Nacional da Primeira Divisão no ano de 2004."

BdP: Quais as maiores diferenças entre o Futebol na Europa e na América do Sul?

ME: "O Futebol no Uruguai e na Argentina é mais livre, não é tão estruturado , dá-se por um lado mais liberdade aos jogadores e por outro lado exige-se que em termos táticos sejam muito rigorosos. A vertente tática é incutida desde muito cedo aos mais jovens e se um jogador aos dezoito anos não corresponder em termos táticos ou cometa erros importantes de posicionamento ou de marcação é impossível que esse jogador chegue a profissional."

BdP: O trabalho efectuado no Portimonense é muito diferente daquilo a que estava habituado na América do Sul?

ME: "Quanto ao treino de guarda-redes, trabalhei no Portimonense com três treinadores, todos eles diferentes uns dos outros e diferentes daquilo a que eu estava habituado a fazer. Foi assim díficil adaptar-me nos primeiros seis meses, mas agora com o Rui Correia tudo tem sido mais fácil pois tem por hábito fazer muitas perguntas e possui uma filosofia de guarda-redes moderno que me facilitou a adaptação aos seus métodos de trabalho e a fazer-me sentir cada vez melhor. Quanto à equipa, trabalha de uma forma diferente, trabalha-se mais em conjunto para que este funcione, o que faz com que os jogadores se conheçam melhor. Não se jogam tantos jogos de preparação e trabalha-se mais em jogos entre as duas equipas do plantel para que os jogadores se conheçam e saibam o que é que o colega vai fazer ou como o colega pára a bola ou quando vai fazer um passe curto ou longo."

BdP: Gosta de viver em Portimão? Já fez amigos? Sente-se adaptado e feliz em Portimão?

ME: "Gosto de viver em Portimão pois é uma cidade muito calma e com muita costa. Possui uma Marina que é muito parecida à de Montevideu. Amigos todavia não fiz porque sendo estrangeiro e futebolista profissional é dificil poder ter outras actividades que não se relacionem com o Futebol. Depois de voltar de férias senti-me adaptado à cidade e já me parecia que vivia aqui há muito tempo e isso faz-te sentir muito bem."

BdP: De que sente mais saudades?

ME: "Da família principalmente. No Natal e Ano Novo estive aqui sem poder estar com minha família e isso foi muito difícil. Para além da família sinto saudades dos meus amigos."

BdP: Que objectivos gostava de alcançar no Portimonense e na sua carreira?

ME: "No Portimonense até agora alcancei os meus objectivos que eram chegar e jogar sempre, que a equipa alcançasse o objectivo anterior fosse da forma que fosse, e agora ao começar uma nova época também realizar aquilo que a Direção e a Equipa Técnica se propuseram alcançar. Na minha carreira até hoje consegui todos os objectivos, primeiro jogar na Primeira Divisão do Uruguai, depois jogar numa equipa grande, de seguida jogar na Argentina e agora na Europa. O próximo passo será jogar na Superliga e um dia actuar na Inglaterra que é o Futebol que desde muito jovem acompanhava na televisão e me parecia algo impossível de um dia lá chegar."

BdP: Para além do Futebol como passa o seu tempo livre e o que mais gosta de fazer?

ME: "Sou muito calmo e gosto de estar em casa com a minha esposa , ver filmes , gosto de jogos de computador , nada de especial. Nos dias de folga aproveito para conhecer cidades próximas."

BdP: Que jogadores e guarda-redes mais o marcaram? Em Portugal quem são os seus preferidos?

ME: "O guarda-redes que foi o meu heroi durante muito tempo chama-se German Burgos (Internacional Argentino). A seguir, o que mais me agrada ver jogar é Buffon e em Portugal, aquele com quem mais se pode aprender é o Helton. Jogadores de campo, gosto de Alessandro Del Piero, Totti e Zidane quando jogava."

BdP: Costuma visitar o Blog do Portimonense e se sim que opinião tem sobre ele?

ME: "A época passada visitava o Blog mas durante as férias não o fiz para não pensar em Futebol. Quando regressei comecei a visitá-lo de novo mas não me agradaram os comentários dos anónimos a falar mal das pessoas sem justificação simplesmente para lhes causar dano ou por inveja a essas mesmas pessoas que estão neste momento no clube. Esta foi a razão que me levou por enquanto a deixar de o visitar."

BdP: Gostava de deixar uma mensagem para os adeptos do Portimonense?

ME: "Apenas que apoiem a equipa sem se importarem se lhes agrada ou não a cara do guarda-redes , do treinador ou do dirigente que estão agora no clube."

BdP: Se quiser acrescentar algo esteja à vontade.

ME: "Muito obrigado a todos por me terem eleito o melhor jogador da época passada , e pedir-lhe desculpa se cometi muitos erros com o idioma Português." (Nota do Autor: é sempre um prazer o tempo gasto em prol do Portimonense).

BdP: Muito obrigado e muitas felicidades para si, para a sua carreira e vida no seu todo.

ME: "Obrigado eu."


Termina assim a entrevista com Michael Etulain, que espero ser do agrado de todos os Portimonenses. Ficamos assim a conhecer melhor aquele que tem sido até à data o dono das nossas balizas. Espero também muito sinceramente que o Michael tenha razões para voltar a acompanhar o Blog do Portimonense e que desta vez ninguém o leve a afastar-se de novo.
Agradeço ao Michael ter dispendido algum do seu tempo para que pudéssemos concretizar esta entrevista e ainda por ter disponibilizado as fotos que acompanham o artigo.