Como já havia escrito há uns tempos atrás, foi quase por mero acaso e com muita sorte que encontrei
Luciano, jogador do Portimonense dos anos 80 e a residir há largos anos em Lahti na Finlândia. Luciano para quem não sabe foi um excelente avançado que passou pelo Portimonense e contemporânio de Guetov, Skoda, Pacheco, Cadorin, entre muitos outros jogadores que brilharam no melhor período da vida do nosso clube. Pessoalmente foi um dos jogadores que mais me marcou e do qual guardo excelentes recordações. Convidei-o para dar uma entrevista ao
Blog do Portimonense que foi imediatamente aceite e temos mantido contacto quase diário via mail. Não acrescentarei muito mais pois penso que as suas palavras dizem tudo, tantas são as recordações e os episódios que tornam este relato algo soberbo e que com toda a certeza agradará a todos os Portimonenses e não só. Segue então a entrevista e mais uns extras.
Entrevista a Luciano Martins
por Pedro Azevedo "Guetov"
Parte I: A Carreira
BdP: Depois de ter feito um percurso natural nas Categorias de Base do Grémio e de ainda nos Juniores ter representado o C.E.R. Caxias do Sul, o que o levou a iniciar a carreira enquanto sénior no Futsal?LM: "Sempre estive ligado ao Futsal. A concorrência no Futebol era muito grande e os contratos oferecidos na época eram terriveis. O Futsal era praticado à noite, dava para estudar e até arriscar um trabalho. Mas de repente surgiu a oportunidade de regressar aos revaldos...não pensei duas vezes e retornei."
BdP: Com efeito tem um percurso bem original pois jogou na Tailândia. É preciso ver que há mais de 20 anos não era tão vulgar um jogador, por um lado tão novo e brasileiro actuar no Oriente. Como passou do Futsal para a Tailândia, e já agora desta para a Finlândia? Tinha um empresário com bastantes contactos ou não terá sido bem assim?LM: "Minha ida para a Tailândia não ocorreu através de empresário. Um treinador tailandez foi ao Brasil fazer um curso de treinadores em São Paulo, e lá conheceu um amigo que o levou a Porto Alegre. O tal treinador queria levar para a Tailândia três jogadores. Tinha como objectivo que esses jogadores servissem de exemplo aos demais elementos do plantel. Um amigo meu indicou-me e acabei por ser um dos escolhidos. Ao aproximar-se o fim do contrato com a equipa de Bangkok, eu e um dos outros três jogadores de nacionalidade brasileira decidimos trocar as passagens de retorno para o Brasil por passagens até à Finlândia. Pode ser engraçado, mas é a mais pura das verdades o porquê de termos escolhido a FINLÂNDIA! Basta verem no mapa, a Finlândia lá em cima e o Brasil lá em baixo... No Brasil tem um ditado que diz : "Para baixo todos os Santos ajudam""
BdP: Chega a Portimão em Outubro de 1986, vindo da Finlândia. Mais um avançado alto e loiro no futebol português dos anos 80, mas este apesar de vir de um país nórdico, fala a nossa língua. Conhecia o Portimonense?, quem o referenciou? foi fácil chegar a acordo? Assinou por quantos anos?LM: "Não conhecia quase nada do Futebol Português e do Portimonense nunca tinha antes ouvido falar. A minha ida para Portugal também foi outra ironia do destino. Aquele brasileiro que me acompanhou na ida para a Finlândia estava de regresso ao Brasil. No vôo conheceu Marco Lorenzi (proprietário da Gelataria Bella Italia) que lhe falou de Portugal, mais especialmente de Portimão e que era amigo do Vitor Oliveira (treinador do clube naquela época). Este meu amigo acabou indo ao Algarve... Neste mesmo período aconteceu aquele terrível acidente com o já falecido Cadorin e eu acabei por enviar o meu currículo para o Portimonense. Entraram em contacto comigo aqui em Lahti e chegámos a acordo para um contrato com duracão de um ano... E lá fui eu de mala aviada para Portimão..."
BdP: Estreia-se na oitava jornada frente ao Varzim (Salomão, outro brasileiro também se estreou nesse jogo) e logo aos dez minutos marca o único golo da partida? Ainda se lembra do jogo e desse golo? Quando fosi substituído pelo Alain deve ter ouvido uma grande salva de palmas, certo?
LM: "A chegada a Portimão jamais esquecerei... Seu Rebelo e um outro director que era proprietário dos Supermercados Barlavento foram bucar-me ao Aeroporto de Faro. Cheguei a Portimão durante a noite e hospedaram-me na casa da Dona Carminha (mãe do Presidente Manuel João). Grande senhora ! Eu e o Salomão andámos dois dias para lá e para cá de forma a colocar a burocracia em dia. O campeonato estava parado devido a um jogo da Seleção Portuguesa... Ao entrar nos balneários pela primeira vez tive dois sentimentos bem distintos. O primeiro de muita alegria pois o Nivaldo estava tocando pandeiro e cantando samba e o Balacó muito desafinado com o chocalho ia acompanhando! O segundo sentimento foi de constrangimento, pois Cadorin um pouco magoado com a sua situacão (recuperando das queimaduras) fez o seguinte comentário: "Trouxeram mais um..." Eu não tinha a intencão de substituir ninguém, fui para Portimão só para jogar uma bolinha! Foram duas semanas de trabalho sobre a orientacão do Vítor Oliveira e do Professor Monge da Silva, antes de ser convocado para a partida contra o Varzim. Lembro-me muito bem do golo contra o Varzim... Recebi um passe na entrada da área pelo lado direito e bati cruzado, Lúcio não conseguiu defender e fui abraçar a malta! As palmas dos Marafados ao ser substutuído deram-me um sentimento de aprovacão... Tinha sido aceite e não iria desapontar a claque!"
BdP: Entretanto Vítor Oliveira é substituído por Paulo Roberto a dez jornadas do final da época e Luciano vive os seus momentos mais altos, marcando ao Sporting em Portimão (1-1), ao F.C.Porto , também em Portimão (1-0) e ao Benfica na Luz (1-1). O que mais guarda na memória desses 3 embates?
LM: "Depois de algumas partidas lesionei-me num jogo de preparação para uma partida fora de casa. Fiquei sem jogar algumas semanas. Neste período a situacão não estava muito boa e ocorreu então a chicotada psicológica. Não havia nada de errado com Vitor Oliveira, são só estas coisas que acontecem no Futebol que ninguém consegue explicar. Justamente na chegada do Paulo Robero houve outra paralização do campeonato e eu já estava recuperado e treinando forte. Estes jogos contra os três grandes foram muito importantes, pelos golos que fiz em cada uma destas partidas, mas também pela estabilidade que estava dando à equipa...
- contra o Sporting: o golo foi uma jogada bem trabalhada que acabou em desgosto no final com o empate marcado por Peter Houtman.
- contra o F.C.Porto: um golo com uma pitada de muita sorte... O Skoda tentou cruzar da esquerda, a bola enganou Zé Beto, bateu na barra e voltou. Eu todo desiquilibrado coloquei para dentro. Depois do golo nem lembro de ter tocado na bola pois só defendemos. Esta partida marcou-me pelo abraço do Alain no final, as lágrimas de alegria corriam nos nossos olhos...
- contra o Benfica: O Pacheco chutou... Silvino defendeu tendo a bola percorrido a linha de fundo e eu bati quase sem ângulo... golo ! Gente, que silêncio medonho! Foi o maior prazer quando corri para festejar passando en frente do banco do Benfica tendo quase tropeçado no nariz do John Mortimore (ele tinha um nariz de dar inveja ao elefante!)... Caras de espanto vemelhas e muita alegria Marafada. Fiquei a saber por um amigo finlandês que passava férias em Portimão que quando fiz o golo na Luz os carros soaram as buzinas em Portimão tendo ele perguntado a alguém o que tinha acontecido. Quando soube que eu tinha marcado também saiu gritando pela rua... Eu até me arrepio sempre que me lembro desse golo."
BdP: Falou-se muito na altura dos métodos de trabalho pouco ortodoxos de Paulo Roberto e da sua postura em campo (chegava a andar de joelhos junto ao banco). Havia boa relação entre jogadores e técnico? E já agora os métodos eram assim tão estranhos ou tudo não passava de showoff?
LM: "Paulo Roberto botou para correr como loucos... era treino a toda hora! Ele era uma pessoa muito deconfiada e não tinha papas na lingua. Mas de alguma maneira conseguiu extrair da malta o suficiente para nos manter na Primeira Divisão. Seu método era muito simples...trabalhar, trabalhar trabalhar! Métodos estranhos que se ajustavam a ele pois era uma pessoa muito maluca... Uma vez num jogo treino contra o Torralta quase deu uma cadeirada no Cadorin dentro do vestiário! Foi muito cómico mas também horrível...no meio da palestra!
Outro episódio muito engraçado aconteceu no Estádio: estávamos sentados no relvado depois de um treino. Paulo Roberto falava de como deveriamos chegar forte no combate com os adversários. O mister tentando fazer uma demostracão deu uma porrada no tornozelo do funcionário que tratava do relvado... O pobre coitado teve que ser levado ao Departamento Médico! Pessoalmente nunca tive nenhum problema com o Paulo Roberto, mas acho que todos tinhamos um pouco de medo dele e não acho que aquilo que aconteceu na Luz, ele andando de joelhos era show, como referi anteriormente, o gajo era muito maluco e ao mesmo tempo muito folclórico."
BdP: A excelente época que realizou (a melhor de toda a carreira?) levou-o à Bundesliga e ao F.C.Homburg. Foi o seu melhor contrato em termos financeiros? O Portimonense julgo que também realizou um bom negócio com a sua venda se bem me recordo, certo?
LM: "Foi bom ter ido para a Bundesliga, mas jamais teria deixado Portimão se soubesse o que se passaria na Alemanha. Para mim financeiramente foi bom, mais foi bem melhor para o Portimonense. Quando sai de Portimão com destino à Alemanha acredito que todos desejavam que eu assinasse e ficasse por lá, pois signinificaria que os pagamentos em atraso seriam colocados em dia, etc... Não foram só as partidas e os golos do Campeonato Português que me levaram á Alemanha. Muitas equipas do norte da Europa faziam estágios no Algarve e o Portimonense fazia jogos treinos contra essas equipas. No ano de 1986 jogámos entre outras com a equipa do St. Gallen da Suica. O treinador da equipa suiça daquela época era Uwe Klimatchewiski que viria a treinar posteriormente o FC Homburg em 86/87 e deu ordens ao empresário Willi Hoppen para ir buscar-me a Portimão... Lembro-me bem desse jogo contra o St. Gallen, pois fiz um golo quase do meio campo e como se diz na gíria, naquela partida eu ARREBENTEI !"
BdP: Falhou algo na Ssua passagem pela Alemanha? Acabou por regressar ao Portimonense onde permaneceu mais três temporadas. Chegou já com a época em curso mas ainda a tempo de ajudar na fuga à descida. Na temporada seguinte o Portimonense desceria de divisão (a última na Iª Divisão). Como recorda essas duas temporadas?
LM: "Na Alemanha falhou tudo. Homburgo, uma cidade de 50.000 habitantes na Bundesliga mais parecia a história de “Sansão e Golias” onde todos eram golias e somente um Sansão: o F.C.Homburg. As expectativas eram muito grandes, pois na fase de preparacão eu estava muito bem, fazendo golos e jogando muito mesmo. Até que um jornal fez um artigo de que o Pelé loiro chegou à Alemanha... Depois deste artigo só levei PORRADA! Primeiro foi na estreia contra o V.F.B. Stutgard que também tinha um loirinho (Uwe Klinsman) e um tal Guido Buchwal (aquele que parou o Maradona na final da copa) que me marcou em cima todo o jogo de tal maneira que no intervalo eu falei para ele "Vais ao teu balneário que eu vou para o meu, tá bem?" Todas as partidas que se sucederam sofria a mesma marcacão especial. Estive quase para me afirmar quando ganhámos ao F.C. Bayern München em 86. Foi a primeira partida em que eu passei de agredido a agressor, pois dei porrada em todo mundo do Bayern: Mathäus, Augenthaler, Plufger, etc e ganhámos de 3-2! Uau! Imaginem no mesmo ano ganhar ao campeão (F.C.Porto) e vice-campeão da Europa (Bayern)! Depois vieram as lesões... Primeiro com uma operacão aos músculos do abdomen, depois partino o perónio da perna esquerda... Foi infalível... o Homburg foi rebaixado! Eu queria sair de lá! Sem ter assinado para jogar na Zweide Bundesliga apareceu o Portimonense que estava em maus lencois. Os clubes chegaram a acordo e eu peguei em tudo que tinha, meti no meu carro e fui para PORTIMÃO. Rapaz, que alegria cruzar aquela ponte novamente! Naquele mesmo ano também chegaram ao Portimonense, Guetov, Simeonov e César Brito! Também existiam caras por lá: Aurélio, Mazola, Pires... e o Major (Hilton Hiraldo da Costa) que viria a se tornar, entre os demais colegas de plantel,o meu melhor amigo, eu até fui padrinho de casamento dele, que saudades! Mesmo estando ainda a recuperar da fractura no perónio, parecia que eu tinha nascido de novo e a máquina marafada entrou em funcionamente outra vez... Guetov, mesmo sendo o melhor jogador com quem já joguei, tinha o joelho todo estragado. O César Brito também estava ainda em recuperação daquele acidente de viação, mas acabámos por formar, juntamente com Skoda, Nivaldo, Sérgio e outros uma excelente equipa no final do Campeonato e conseguimos escapar à descida. A descida de Divisão no ano seguinte foi muito triste. E eu não consigo esquecer-me daquela partida contra o F.C.Porto onde o Nivaldo empatou (1-1) num canto do Guetov. Lembro-me que um pouco antes do golo do Nivaldo eu ter cabeceado uma bola, também num canto do Guetov que o Zé Beto salvou nem sei como. Quase no final da partida o Zé Pedro escapa e é derrubado dentro da área do Porto. O arbitro não marca e os Marafados revoltam-se com toda a razão... Depois da partida foi a maior confusão. Apedrejaram o autocarro do F.C.Porto e o carro onde seguia Pinto da Costa. Fomos castigados tendo que jogar algumas partidas fora de Portimão. As coisas que já iam mal ficaram ainda piores e acabámos descendo de divisão."
BdP: A Sua última época em Portimão ficou marcada por terem existido três técnicos e por uma vitória por 9-0 no Barreiro (onde jogou os últimos vinte minutos com tempo ainda para marcar um golo) com direito a despedimento de Manuel de Oliveira. Como foi a despedida e a partida para Vila do Conde?
LM: "Lembro-me muito bem desse jogo contra o Barreirense. Pelo que me lembro, joguei desde o início (Nota do Autor: Os dados que tenho indicam que Luciano entrou já no decorrer da segunda parte). Foi uma surpresa para todos que o Manuel de Oliveira depois do jogo abandonasse o Portimonense. Lembro-me também que no autocarro ao fazer as contas dos golos ficar muito surpreendido, puxa vida marquei o OITAVO! Também estiveram por lá Carlos Alhinho, Quinito e Joubert, este último um treinador brasileiro de muito prestigio, mas em Portugal, com todo o respeito à sua pessoa, mais parecia um turista! No principio da temporada 90/91, o Portimonense contratou um novo treinador (Pablo Centrone)e um preparador físico provenientes da Argentina e com eles vieram três reforcos, todos argentinos. Com o limite de estrangeiros completo alguém teria que ir embora... felizmente fui eu o escolhido. Sendo contactado por Augusto Inácio, uma pessoa pela qual até hoje tenho uma admiracão muito grande, ingressei no Rio Ave. Tornar-me-ia mesmo com 28 anos um dos meninos do Inácio... Pois quando Inácio foi para Vila do Conde proveniente dos júniores do F.C. Porto levou com ele, Jorge Silva (guarda-redes), Tulipa, Bino, Rui Jorge, Gabi e Freitas. No Rio Ave juntamente com, Joel, Carlos Brito, Paulinho, Toni, Abdul Karim, Alfaia, Farrajota, Paulinho, Eusébio e com os meninos, acabámos por fazer uma época muito fixe e quase subimos à Primeira Divisão. O que é crueldade do destino é que ganhámos ao Portimonense por duas vezes... E foi muito triste quando estávamos em Setúbal jogando contra o Vitória saber que o meu preto e branco fora rebaixado para a segunda divisão."
BdP: Curioso que o último jogo disputado pelo Portimonense na Iª Divisão apresentou como dupla atacante, Luciano e Guetov no dia 20/5/1990 em Portimão contra o Vitória de Guimarães. E o último jogo de Luciano no Portimonense referente à última jornada da Liga de Honra em 26/5/1991 em Portimão face ao Louletano (há quem diga que foi oferecida a vitória ao Louletano que precisava de ganhar para não descer...) entrou a substituir precisamente Guetov... Para muitos dois dos melhores jogadores do Portimonense de todos os tempos! O que diz sobre isto?
LM: "Foi muito dolorosA a descida! Nem gosto muito de me lembrar. Também houve aquele sobe não sobe, desce não desce... E aquela partida contra o Nacional da Madeira que perdemos! Foi como jogar um balde de água fria sobre a Malta! Já contra o Louletano... Eu nem queria entrar em campo pois estava terrível... E o Guetov queria sair, nem me lembro ter tocado na bola! Sem dúvida, o Guetov é um dos melhores jogadores que já passou por Portimão, mas acho que os feitos do Cadorin foram ainda maiores!"
BdP: Regressa à Finlândia, porventura por razões familiares e de seguida vê-se sem poder jogar até à Lei Bosman entrar em vigor. Quanto tempo esteve sem poder jogar e como foram vividos por si esses tempos?
LM: "Sem renovar com o Rio Ave devido ao empréstimo do meu passe junto do Homburg ser muito elevado, acabei por regresar à Finlândia em 1992, tendo conseguido a liberacão provisória para representar o F.C .Ilves de Tampere. No ano de 93 divorciei-me e fiquei sem jogar. Fui até ao Brasil recarregar as baterias e cuidar de alguns negócios... Daí veio a lei Bosman e em 94 surgiu a oportunidade de jogar novamente, desta vez no Kuusysi aqui de Lahti. Fiz dez golos naquele ano e na temporada seguinte, devido a uma torcão no tornozelo acabei por não poder jogar e acabámos por descer de divisão. Em 1996 as equipas do Reipas onde comecei na Europa e do Kuusysi uniram-se para formar o F.C.Lahti. Com o Lahti subimos para a divisão especial finlandesa em 1998 onde permanecemos até hoje e já com dez anos de existência. Desde 2003 ocupo as funcões de treinador adjunto no F.C.Lahti."
BdP: A partir daqui ficou até hoje na Finlândia. Jogou até aos 39 anos como profissional ou no final da carreira já tinha abarcado outros projectos?
LM: "Em 1995 conheci a companheira com quem vivo até hoje. Em junho de1999 nasce a nossa filha, Mandi Maria Martins. Hoje sou proprietário de um restaurante, Mamma Maria, muito badalado por aqui.... Com uma capacidade para 110 clientes, serve pastas, pizzas, bistecas e filetos e possui uma mini fábrica de sorvetes. Desde o meu regresso à Finlândia em 92 concluí o curso universitário de Gastronomia e estou prestes a concluir o de Treinador Profissional. Desempenho as funcões de treinador adjunto no F.C.Lahti, treinador da Academia de Futebol de Lahti e professor de educacão física na Escola Profissional de Lahti. No Restaurante divido as tarefas com dois sócios... Um italiano e um alemão. Temos 1o funcionários e parecemos mais uma família do que colegas de trabalho!"
Parte II: Portimão
BdP: Contou-me episódios passados em Portimão de uma riqueza tremenda (Ver no final da Entrevista). Fala de Portimão com um carinho e uma nostalgia impressionantes. É como se tudo tivesse acontecido ontem. Para além de tudo aquilo que já me contou e que farei chegar a todos os leitores do Blog que mais histórias gostarias de acrescentar?
LM: "Nossa, muita coisa! Sempre fui uma pessoa muito sociável e em Portimão conheci muita gente e cultivei grandes amizades. Exestiam locais que frequentava quase diariamente. As bicas e a àgua das pedras... As sandes e as imperiais nos dias de folga. Os bitoques e as bifanas! Os mariscos lá de Silves e o frango com piri-piri de Monchique. Grandes pescarias em Albufeira e a bela praia Dona Ana em Lagos. Pergunta quem é em Portimão nunca foi ao Um, Dois, Três? Cartão de visita da cidade! Jogar bilhar no Bowling da Praia da Rocha... Houve uma altura em que depois dos treinos da tarde iamos beber umas imperiais com groselha ao Alvor. Eu, Adalberto, Major e o Vadinho! Jogar sobe e desce com os amigos Paulo, Marcos e Michel. Lembro-me das boas conversas com o Prof. Domingos (portista fanático). O Professor com o seu dois cavalos vermelho e eu com o meu azulinho! Quando voltei a Portimão havia lá um grupo brasileiro samba-show, o Rabo de Saia, vivíamos como se fossemos uma grande familia.Tive outros colegas com quem tinha muita afinidade, Justiniano, Palecas, Chico Zé, Marlon. O Alberto (xixas), grande figura. O Figueiredo era uma figura! O Alain com aquele sotaque belga fazia-me rir muito. O Simões e seu grande bigodão! O Balacó fazendo sempre musculacão. Para mim a maior perda que o Portimonense sofreu foi a saída do Nivaldo, aquele careca era um Pai para todos nós. A unica coisa que não gosto de lembrar são dos peidos que ele dava, que fedor! Nos treinos ninguém corria atrás dele! Nas viagens quase sempre dividia o quarto com o Guetov, ele ficava a jogar paciência o tempo todo. Depois antes de sair fazia a barba sem creme, sem nada! Sempre a mesma coisa: muito susperticioso! Lembro-me da calma do Zé Pedro e do terrível Renault 9 turbo do Sérgio! O Zé Forbs com seus dialetos africanos, batendo papo com o Varela, era muito engraçado. O José Torres e seus pombos, grande homem! Tantas coisas me vêem à memória, tempos muito bons que jamais esquecerei!"
BdP: Estarei a exagerar se disser que é de Portimão e do Portimonense que sente mais saudades? Depois de quase toda a vida a jogar fora do Brasil, será que é de Portimão que guarda as melhores recordaçôes? Chegou ainda a passar um ano em Vila do Conde. Como foi voltar ao frio e que diferenças sentiu entre os Marafados e o pessoal do Norte?
LM: "São imensas as saudades que tenho de Portimão. Claro que a minha família lá em Porto Alegre e o Grêmio, clube do meu coracão fazem-me também muita falta. Como já havia dito anteriormente, se pudesse escolher uma cidade onde gostaria de passar os últimos dias da minha vida, esta seria provavelmente PORTIMÃO! PÁ! Em Vila do Conde também fui muito feliz. Tinha lá o Alberto, Carvalho e o Karim com quem joguei no Portimonense. O Farrajota que também veio ao mesmo tempo do Algarve. O Joel com quem também ia muitas vezes pescar na praia da Avenida Brasil. Um treinador que respeito muito, Augusto Inácio e no Rio Ave o melhor preparador fisico com que já trabalhei, sem falar no famoso Dias com as suas mãos milagrosas. A meu ver a diferença entre Rio Ave e Portimonense é a de que lá no norte o pessoal era mais ligado ao próprio clube, enquanto no Algarve a maioria dos adeptos era mais ligada ao Benfica, Sporting ou F.C.Porto do que própriamente ao Portimonense."
Parte III: Técnicos e Colegas
BdP: Conheceu no Portimonense vários treinadores. Deixe um pequeno comentário sobre cada um deles: Vítor Oliveira, Paulo Roberto, José Torres, Quinito, Manuel de Oliveira, Luís Joubert e Carlos Alhinho.
LM: "Vítor Oliveira: Grande jogador, em Portimão viveu a primeira experiência como treinador e não é nada fácil treinar ex-colegas. Deu-me muito apoio e fico-lhe muito agradecido por tudo o que fez por mim!
Paulo Roberto: Mais general do que treinador, suas palavras e treinos eram similares ao de combatentes que iriam para guerras.
José Torres: Grande filósofo e muito bom sonselheiro. Tinha um plantel muito bem estruturado.
Quinito: Treinador que falava a linguagem dos jogadores. Seu unico erro foi em ter-me deixado de fora nalgumas partidas, optando por Kashmerov...
Manuel de Oliveira: Treinava como fazia comentários na RTP, muito didático e com sistemas muito antigos, mas como se costuma dizer, aprendi muito com a sua experiência!
Luis Joubert: O feitos dele do outro lado do Atlântico não o ajudaram nada em Portugal. O professor Saldanha, seu preparador físico era muito competente. Sem saber nada acerca do Futebol português foi para o Portimonense uma perda de tempo e dinheiro.
Carlos Alhinho: Quando Alhinho chegou a Portimão eu estava para rescindir contrato e quase indo para o Farense de Paco Fortes. Foi a pedido do Alhinho que entrei novamente em paz com a Direção e comecei a jogar novamente. Era um bom treinador, muito educado. um verdadeiro gentlemen."
BdP: Para além do Portimonense com quem mais gostou de trabalhar ao longo da sua carreira? Se escolhesse o melhor treinador seria...?
LM: "Com o F.C. Lahti, ajudei na sua criação e agora ajudo a mantê-lo grande. Aqui em Lahti primeiro trabalhei com Harry Kampman que foi entre outros clubes, treinador do MyPa que disputou há alguns anos uma eliminatória oda Taça U.E.F.A. contra o Boavista. Agora trabalho com Antti Muurinen, ex-seleccionador finlandês e que também treinou o H.J.K. que disputou com o Benfica, Borussia e P.S.V. a Liga dos Campeões. Talvez por termos feitios muito semelhantes e de me identificar com sua maneira e métodos trabalho. o mister Augusto Inácio está no top da minha lista de treinadores."
BdP: No Portimonense teve como colegas de profissão grandes nomes tanto nacionais como internacionais. Deixe um comentário sobre aqueles que julgo terem sido os mais conceituados e acrescente outros que para si possam ter sido muito importantes: Balacó, Augusto, Skoda, Alain, Pacheco, Simões, Nivaldo, José Carlos, Aurélio, Floris, Sorensen, José Pedro, Major, Vado, Cadorin, Zé-Tó, Guetov, César Brito, Bezinski, Voinov, Adalberto, Palecas (amigo do meu bairro).
LM: "Balacó: Não tinha pinta de jogador e não possuía muita habilidade com a bola, mas um dia gostaria det ter na minha equipa um defensor com o seu nivel de entrega, um guerreiro!
Augusto: Estava no começo da sua carreira quando cheguei a Portimão e quando fui para a Alemanha ele foi para o Benfica, acabando por retornar a Portimão mais tarde.
Skoda: Muita categoria e uma maneira de jogar que dava muito gosto em ver, um pouco calado no primeiro ano. Na minha segunda fase em Portimão econtrei-o mais extrovertido e arriscava até umas palhaçadas. Talvez se o Skoda ler esta entravista se lembre do Cruijff (greve do roupeiro) e da festa de despedida de solteiro do Rui (fisioterapeuta). Eu tenho uma fotografia dele com um chapéu muito engracado!
Alain: Foi um grande companheiro dentro do campo, talvez no começo a atmosfera entre nós não fosse das melhores pois disputavámos a mesma posicão. Quando saímos com destinos diferentes sempre dava um prazer em encontrá-lo. Tinha um sotaque muito engraçado e em 86 fazia misérias com aquele Opel Kadett vermelho!
Pacheco: Saíu juntamente com Augusto rumo ao Benfica. Foram dos pés dele que nasceu aquele golo, Pedro, do qual tanto gostamos (1-1) lá na Luz. Quando o Benfica foi disputar contra o Stuttgard a final da Taça U.E.F.A. fui visitá-lo ao Hotel e estive no Estádio para prestigiar o nosso Pachequinho Marafado e vê-lo marcar um dos penaltis.
Simões: Grande zagueiro e um dos membros daquele que para mim foi um dos melhores plantéis do Portimonense de todos os tempos. Já no Rio Ave, aquando da abertura do Campeonato da IIª Divisão de Honra 91/92 foi meu o golo no 0-1 contra o Academico de Viseu. Só marquei nesta partida porque o Simões estava no banco como Treinador e não em campo!
Nivaldo: O careca mais amado deste mundo! Com Nivaldo não havia dias ruins, apresentava sempre uma óptima disposicão e talvez por isso era visto como um irmão mais velho para todos nós. Sua familia também se tornou na minha família. Que saudades da Aninha e do Rodrigo. Entre os problemas que levaram o Portimonense a descer de divisão naquele ano foi a falta que o NIVALDO fez!
José Carlos: Grande lateral, muito alegre e extrovertido. O pessoal zombava, afirmando que a que a sua condiçaõ física retumbante era devida ao seu nariz com um grande poder de aspiracão! He, he! Foi um prazer jogar com ele.
Aurélio: Grande zagueiro, chegou da Madeira para o Portimonense. Carioca dos bons e Vascaíno doente. O Aurélio esteve nos juniores do Vasco com o Romário. Era com o Aurélio que conseguíamos quebrar as tristezas. Fazíamos muitas palhaçadas juntos. O Aurélio gostava muito de falar com as sílabas de trás para a frente! “tarcor o lobeac uov ue!” ( Eu vou cortar o cabelo!) Eu e o Major praticávamos e batíamos grandes papos de traz para diante!
Floris: O holandês mais Olhanense que já nasceu! Chegou de uma maneira muito fora do vulgar a Portugal, como marinheiro e foi um dos melhores médios que passaram pelo Portimonense. Além disso era um gajo muito fixe, pá!
Sorensen: Não tive a oportunidade de jogar com ele pois quando retornei ele já era adjunto de José Torres, mas tinha um bom relacionamento com ele.
José Pedro: Muito rápido e uma calma medonha fora e dentro do campo. Era, como o Skoda, uma pessoa muito calada. Nosso relacionamento era muito bom. Na penúltima partida do ano com Zé Torres, estávamos a perder 1-0 em casa, saí do banco para lhe fazer o passe para o 1-1 e depois ele retribui, passando para eu marcar o 2-1.
Major: Hilton Hiraldo da Costa. Em todos estes anos talvez o meu melhor amigo! É sempre uma pena a distância e a perda de contacto. Com o Major passei os melhores momento em Portimão. Lembro-me quando ele comprou o seu Renault 5 e eu patrocinei enchendo o tanque pela primeira vez. Ele retribui quando encheu o tanque do dois cavalos. Como tinha tirado a carta de condução naquela época, era um verdadeiro perigo! Espero que ele leia esta entrevista e entre em contacto comigo esteja onde estiver!
Vado: Grande amigo! Sabia jogar como um maestro. Grandes momentos passámos juntos no Alvor onde nos esncontravámos com frequência: A turma da imperial com groselha! Fica aqui um relato com muita emocão. Quando o Vadinho recebeu seu primeiro salário como profissional lembro-me que ele comprou para o irmão uma viola eléctrica e d um equipamento de som para que este pudesse seguir melhor a sua carreira como músico! Fica aqui o meu abraço e a minha grande admiracão ao Galinho de Angola!
Cadorin: Pelo que pude constatar em vídeos e notícias, na minha opinião foi o melhor jogador do Portimonense de todos os tempos! Não fui talvez muito bem aceite por ele, pois a minha vinda para Portimão deveu-se ao facto dele ter sofrido aquele terrível acidente! Fico muito triste por ele não estar mais entre nós e fica aqui o meu respeito e admiracão por este grande jogador.
Guetov: Foi uma escolha dificil entre ele e o Serge Cadorin para o título de melhor jogador do Portimonense de todos os tempos. O Guetov, com certeza foi o melhor jogador com quem tive a oportunidade de jogar. Eu gostaria muito de poder jogar ao lado dele outra vez, mesmo agora com os meus 44, eu e Guetov faríamos muita fumaca! Os livres que ele marcava eram uma obra de arte. Seus dribles e sua técnica eram de dar inveja a qualquer estrela em campeonatos mundiais. Portimão deve estar orgulhosa de um dia, um jogador do gabarito de Guetov ter vestido a camisola do Portimonense!
Zé-Tó: Prata de casa, disputávamos posicão mas nunca tivemos nenhum conflito. Fiquei a saber que se formou em educacão fisica e foi preparador do Portimonense mais tarde, com Amilcar. Muito fixe, e aquela pernas como as do Garrincha davam dribles descontrolantes.
César Brito: Avé César, uma velocidade impressionante e um grande poder de finalizacão. Tal como Guetov, fomos muitas vezes companheiros de quarto nos estágios, muito engraçado. Foi muito bom jogar com ele.
Bezinski: Quando estive no Homburg fizemos uma partida amigável contra a Selecão da Bulgária e Bezinski estava no plantel. Alguns meses mais tarde seráiamos companheiros de equipa em Portimão. Entre os Bulgaros daquele ano talvez o mais aberto, e talvez por isso, com quem tinha mais contato. Grande médio com um estilo muito parecido com o de Dunga (actual selecionador Brasileiro). Bezinski estava no plantel do Portimonense que desceu para a IIª Divisão na época 91/92. Lembro-me na partida na Vila do Conde contra o Portimonense vê-lo muito abatido e com muita preocupacão estampada na face. Mesmo com a vitória do meu Rio Ave, não foi uma coisa de dar muita alegria sentir a tristeza estampada na face dos meus ex-colegas.
Voinov: Um jogador muito estranho, poderia vingar ainda mais no Futebol Português não fosse o seu estilo de vida. Só o via comer sandes! Tinha uma canhota maravilhosa e era muito protegido por Guetov. Foi muito bom jogar com ele também. Talvez pelo facto de termos quatro estrangeiros, por vezes o ambiente ficava um pouco pesado. Eu nunca tive problemas com isto e pelo que notava o Guetov também ficava contente com a minha convocacão.
Adalberto: Miudo de Lisboa, que veio para os júniores do Portimonense tentar a sua sorte. Ele recebeu muito apoio meu e do Major. Emprestavámos uns escudos, etc. Lembro-me que quando fomos comprar a aparelhagem de som, deixei na loja cheques meus. No final do mês ele ia à loja, pagava e devolvia-me os cheques. Fiquei muito triste por saber o que aconteceu com ele, sempre desejava um final mais feliz para a sua vida. Deus o tenha em paz, fica guardado na minha memória os bons momentos que passámos com ele dentro e fora das quatro linhas.
Palecas: Filho de peixe, peixinho é... Seu pai foi um grande avançado (Nota do Autor: o seu pai era Valter Ferreira, ele também um antigo jogador do Portimonense e uma das figuras mais carismáticas o Futebol Português) e vivemos momentos muito bons. Lembro-me muito bem de recebermos autorizacão de Quinito para irmos a lisboa ver o concerto dos Bon Jovi! Foi espectacular. Eu Justiniano, Palecas. Até o Kashmerov foi. Ficámos rindo o tempo todo pois Kashmerov gritava o tempo todo: "AMERICA; AMERICA!", talvez influenciado pela Perestróica! Quando estava no norte fiquei a saber atravês do Chico Zé que o Palecas teve um acidente quase fatal em Albufeira. Valeu a presenca de Paulo Futre que estava no local e chamou o helicóptero. Não fosse o Futre, as coisas poderiam-se ter tornado bem piores! Muito boas recordacões deste bom jogador e bom amigo, ao mestre Palecas, meu abraco!
Alguns outros nomes: Chico Zé, Alberto, Figueiredo, Sérgio, Mendes, Barão, Dinis, Varela, Mazola, Guerreiro, Paulinho, Jorge "Gaivota", Leonardo, Pires, Magno (grande figura!), Rui Manuel, Padinha, Texeirinha, Zé Alhinho, Goncalo, Carrilho, os irmãos Reina, Luís e João, Justiniano, Caldeira, Diop, Karim, Carvalho. Se me esqueco de alguém peço perdão. Todos estes nomes ficaram sempre guardados na minha memória."
BdP: Qual o ou os melhores jogadores com quem jogou como colega ao longo da carreira?
LM: "O melhor de todos foi o guarda-redes Sérgio, talvez por termos uma relação muito especial: segundo a esposa dele, naquela época éramos responsáveis pelo leitinho das crianças. Eu marcava e ele defendia!"
Parte IV: Outras curiosidades extra Portimonense
BdP: Do tempo passado em Portugal e como adversários quais as equipas e os jogadores que mais o impressionaram?
LM: "Muitos adversários impressionaram-me e contribuiram ainda mais para valorizar a minha passagem por Portugal. O facto de ter actuado e marcado em Setúbal o primeiro golo do Portimonense contra o Benfica onde jogavam a dupla de zagueiros da selecão brasileira: Aldair e Ricardo Gomes foi muito imortante. Nessa partida estávamos com o Estadio interditado. A partida teve transmissão televisiva em directo , só não se viu o meu golo devido a alguma falha da RTP pois a emissão começou aos 4 minutos e eu já havia marcado o 1-0 aos 2 minutos do primeiro tempo!"
BdP: Tem acompanhado o Futebol Português na Finlândia? Que opinião tem sobre Portugal enquanto seleção e de jogadores como Figo, Paulo Sousa, Cristiano Ronaldo, o Euro 2004 ou Mourinho, entre outros?
LM: "Sentimento de muito orgulho foi também ver os miudos que estiveram estagiando com Carlos Queirós no Algarve e contra quem jogámos alguns amigáveis. Lá estavam, entre outros, Joao Pinto, Figo, Peixe, Jorge Costa, Fernando Couto, Paulo Sousa. Segui as transmissões da RTP Internacional até há cerca de dois anos. Lembro-me da ida de José Mourinho de Leiria para o F.C.Porto, de ver as partidas do Sporting, onde um menino muito franzino e bom de bola (Cristiano Ronaldo) sobressaír a causar mais dores de cabecas aos adversários que Jardel."
BdP: Com que opinião ficou sobre a Arbitragem e os Dirigentes em Portugal?
LM: "Árbitro é árbitro, em Portugal e em toda a parte. Os dirigentes com suas politiquices acabam por muitas vezes estraga o espectáculo. Existem dirigentes que por alguma razão querem ser a estrela do espectáculo. O Futebol é bonito quando é jogado no campo e não nos bastidores. Em Portugal, a situação não é muito diferente da do Brasil, Itália, Alemanha, etc... Os dirigentes gostam de aparecer mais do que deveria ser... E acabam estragando o espectáculo."
Parte V: Últimas perguntas
BdP: Extra Futebol como define o Luciano?
LM: "Uma criança de 44 anos, com responsabilidades de adulto. Um gajo que passa a vida a brincar. Neste momento o Luciano quase não tempo para nada, mas sempre encontra um tempinho para a sua filha e para a sua mulher. Tenho às vezes a sencacão que a aventura que começou com a minha saída de Porto Alegre em 1981 ainda não acabou. Só acabam os capítulos, mas a história continua."
BdP: Quem mais gostaria de reencontrar um dia que venha a Portimão e ao Algarve?
LM: "A malta do sobe e desce e também Guetov, andes de passar desta vida para uma outra seria muito bom “bater uma bola” com ele!"
BdP: E se um dia o convidassem para vir treinar o Portimonense?
LM: "Como citei anteriormente, a minha aventura ainda não acabou! Só que no momento seria praticámente impossivel, mas daqui há alguns anos, quem sabe?"
BdP: Entre dirigentes, Corpo Clínico e outros funcionários quem gostaria de elogiar pelo seu trabalho e amor ao Portimonense? E uma palavrinha sobre o carismático Manuel João?
LM: "Mira Pacheco, que deus o tenha. Manuel João deu parte da sua vida ao serviço do Portimonense e merece o respeito de toda a nação Portimonense!"
BdP: Saudades da gastronomia e do sol algarvios?
LM: "Carapaus, linguados, um bom linguado ou cherne fresquinhos, pipis... Dá até água na boca, pá! Sem falar naquele Cozidinho à Portuguesa, Bacalhau à Gomes de Sá, etc..."
BdP: Locais, pessoas, recordações de Portimão?
LM: "Seria difícil encontrar somente um ponto específico ou somente uma pessoa em especial. Mas acho que se cruzasse outra vez a ponte velha e sentir novamente a sencacão de estar a chegar a casa. E também se o Major estivesse ainda por aí, com certeza convidaríamos o Vadinho para irmos novamente ao Alvor beber umas imperiais com groselha em memória do Adalberto!"
BdP: Que tal um dia voltar a pisar o relvado do velhinho Estádio do Portimonense?
LM: "Quando menos esperarem, apareço por aí, prometo... Mas saibam caros amigos que eu piso no relvado do Portimonense muitas vezes nos meus sonhos... E quase sempre marco o golo e vou-me pendurar nas grades uivando de alegria com a claque MARAFADA !"
BdP: Tem acompanhado o Portimonense ao longo dos anos?
LM: "Sim acompanho via internet e até já enviei várias mesnsagens, mas nunca obtive qualquer ersposta. Vi até uma vez uma foto de um encontro de ex-jogadores para o aniversário do clube."
BdP: Uma opinião sobre o Blog.
LM: "Nunca imaginei que algum dia seria tão importante na vida de alguém. As tuas palavras, Pedro, encheram-me de emoção. Sempre sonhei em tornar-me um dia profissional de futebol, mas nunca imaginei na minha infância, que chegaria tão alto. Contaste a história dos bastidores daquele golo que marquei contra o Benfica. Aquele golo fez de ti mais um adepto Portimonense! Hoje, tu e os teus companheiros estão dando um show de bola com o vosso Blog e tu Pedro Azevedo (Guetov), hoje neste momento, é que és meu FÃ !
O MEU MUITISSIMO OBRIGADO AO BLOG DO PORTIMONENSE!"
BdP: Gostava de deixar uma palavra para alguém em especial?
LM: "Major ! Perdoa-me pela minha ausência, um dia ainda nos encontraremos, estás sempre no meu pensamento e em minha oracões. Espero do fundo do meu coracão que tudo esteja bem contigo!"
BdP: Para finalizar uma mensagem para todos os Portimonenses.
LM: "Malta Marafada do Barlavento: Imaginem o nosso Portimonense de volta à Primeira Liga! Isso só será possível com a juda e a união de todos. Acredito que em Portimão existam pessoas e empresários que possam levantar a Águia Preta e Branca novamente aos escalões principais do Futebol Português. O que seriam alguns euros mensais de cada um dos habitantes desta maravilhosa cidade?
Salve Portimão... Salve Portimonense!
Obrigado a todos do fundo do meu coracão!"
Luciano Luis Turconi Martins
Extra: Alguns comentários bem engraçados:
"Seu Rebelo é todo marafado e o falecido Mira, muito boa pessoa também... Nas viagens ele dormia logo no primeiro arranque e só acordava quando freiávamos em frente ao hotel."
"Zé Manuel Proença gosta muito de uma garrafa de Alvarinho bem fesquinha e ficava tão fodido quando lhe chamávamos CHINÊS !"
"Tinha um roupeiro que era uma pessoa maravilhosa que não consigo lembrar o nome!"
"Alguém já te contou sobre o "MÁ FÉ", o motorista da carrinha da Câmara que nos levava do Estádio ao campo de treinos? Era uma alegria imensa. jogávamos meias na cabeca dele e ele parava a carrinha e saía com aquela azia.!
"E quando eu comprei o Citroen Dois Cavalos. O pessoal aprontou cada uma. Uma vez eles botaram lenha por baixo dele e tiraram as rodas depois do treino da manhã. Após o treino da tarde devolveram as rodas mas faltavam os parafusos. No dia seguinte deram-me depois do treino tudo mas quando eu fui sair com o carro ele estava com a capota aberta e cheio com a lenha da caldeira."
"Muita festa e muita alegria mesmo com salários atrasados e cheques sem cobertura!"
"Às vezes a carrinha atrasava e eu levava onze jogadores no pobre citroen, o esconda gostava de ir de pé em cima do pára choques traseiro segurando-se no vidro de trás. O citroen foi comigo até Vila do Conde e só o vendi pois retornei à Finlândia, vendi-o a um colega do Rio Ave, o Quim."
"Ainda tenho todos o cd's que comprei na loja "Amarelo e Preto" com etiquetas e tudo."
Tem um guarda-redes aì da terrinha chamado Jorge, um gajo muito engraçado que detestava que o chamassem de "gaivota"! Ele era uma pessoa da qual pode-se dizer de folclórica."
"O restaurante onde comia muito chamava-se Balão Doce? Tinha a gelataria Bela Italia na praca no centro. O Restaurante Cletonina, na praia da Rocha, o Chês do Beni também na Rocha. Que saudades!"
"Saudades de dar uma pescadinha no Arade, com uns ciganos que estavam sempre no mesmo local, atrás de uma estação de servico, estacionava o Diane sempre que tinha tempo para jogar umas chumbadas."
"O Dois cavalos tinha o marcador do tanque de gasolina quebrado, muitas vezes a gasolina acabou, eu até tinha uma garrafa de reserva na mala. Em Vila do Conde passei o maior trabalho com ele pois era difícil fazer pegar no Inverno. Vivia empurrando para pegar, até a Rosa Mota uma vez deu uma mãozinha para empurrar o danado junto com outros atletas. Eu morava num apartamento na Avenida Brasil e eles estavam fazendo uma corridinha por lá!"
Um grande obrigado ao Luciano por toda a informação prestada e pelo carinho com que fala do Portimonense e de Portimão. Ele personificou sem margem de dúvidas o ser-se Portimonense. Sem mais comentários, a entrevista fala por si.
6 comentários:
"Mas saibam caros amigos que eu piso no relvado do Portimonense muitas vezes nos meus sonhos... E quase sempre marco o golo e vou-me pendurar nas grades uivando de alegria com a claque MARAFADA !". Até arrepia!!! Grando orgulho em ser Portimonense!!! Pedro grande trabalho, muito obrigado. São sonhos que realizamos...Abraço.
Aconselho todos a lerem este post. É imperdível!
Parece que estamos todos num café a falar com o Luciano, e ele a contar as suas histórias.
Morri a rir com as historias do treinador ter lesionado o funcionário, dos peidos do Nivaldo, do Um Dois Tres (para quem não sabe é um bar de alterne), da malta da imperial com groselha, e claro que me arrepiei com o sonho do Luciano de lá voltar.
Já agora, a história do Golias e Sansão não existe, misturaram duas histórias que são David e Golias e Sansão e Dalila :D
Um grande abraço ao Luciano, e gostava que ele contasse mais historias desses tempos. Talvez um dia o possa conhecer pessoalmente.
Ao Guetov um obrigado, pois foi um muito bom trabalho, apesar de ser uma entrevista fora dos moldes habituais, e com alumas indiscrições cometidas pelo Luciano ;)
fantastica entrevista. talvez seja boa ideia continuar a entrevistar os craques do passado e mostra a todos a mistica do portimonense.
sou irmao do luciano e a marafada deveria se orgulhar do carinho com eh tratada na entrevista
francisco martins
porto alegre/rs - brasil
Acredite amigo Francisco Martins, não é só a "Marafada" que agradece o carinho com que o seu irmão nos recorda... Todos os Portimonenses estão profundamente agradecidos a Luciano Martins. Recordamos a sua passagem pelo Portimonense com muita saudade! Foi um dos melhores jogadores de sempre do nosso Portimonense. Muito Obrigado!!!
..Grande entrevista com o Luciano. Eu lembro-me na altura tinha os meus 12 anos e assistia a alguns jogos do Luciano na bancada atras da baliza. Lembro-me de ele ser um cabeceador eximio...
..Mostra ser um gajo porreio e humano. Pudera que os jogadores de hoje tivessem o caracter e a personalidade do Luciano.
Ja agora gostava de saber onde se encontra o Guetov presentemente. Alguem sabe ?
Saudacoes portimonenses.
Sohrab Forouzin.
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