NIVALDO - A ENTREVISTA

Nivaldo tenta passar por Diamantino. Samuel assiste.

Em cima: José Carlos, Chico Zé, Figueiredo, Major, Aurélio, Cadorin
Em baixo: Flóris, Skoda, Augusto, Nivaldo, Pires

Nivaldo em destaque na imprensa

O nosso ex-capitão acompanhado por Mario Zagalo, antigo seleccionador do Brasil

Escritório onde Nivaldo gere sua actividade empresarial

Os caminhos da Internet levaram-me ao outro lado do Atlântico onde Nivaldo reside actualmente. Guarda Portimão no coração e não hesitou em responder a várias questões, mesmo numa entrevista tão extensa que demorou vários dias a preparar. Mais um grande trabalho EXCLUSIVO do BLOG DO PORTIMONENSE que consumiu precioso tempo do nosso ex-capitão, agora empresário no Brasil!

Agradecemos ao Nivaldo a disponibilidade que demonstrou em colaborar connosco e na forma directa como respondeu a várias questões. Estou certo que esta entrevista vai dar que falar!
Leiam, comentem e desfrutem deste regresso!

NIVALDO - A ENTREVISTA
Por Pedro Simões "Simõesonov"

ANTES DO PORTIMONENSE

Blog do Portimonense: Como começou a jogar futebol?
Nivaldo: 11/03/72. Neste dia, começava a minha carreira de jogador de futebol.

bdp: Fale-nos da sua carreira no Brasil. Que clubes representou?
Nivaldo: Estava então, com 13 anos e fui convidado a participar de um clube novo que se formava na cidade de Ferreiros no interior de Pernambuco/Brasil, minha terra natal, União Futebol Clube.
21/01/75 - Neste dia, fui levado para o Sport Club do Recife, em 15 dias de treino, fui aprovado nos juvenis. No Sport, tornei-me profissional aos 18, estive ligado a este clube até os 22 anos porém, em duas oportunidades, sai por empréstimo, uma para a Portuguesa Santista/SP a outra para o Cruzeiro Esporte Clube de Belo Horizonte. Fui campeão juniores em 1976 e campeão profissional em 1977 – 1980.

bdp: Como surgiu a oportunidade de jogar em Portugal? Esta possibilidade entusiasmou-o?
Nivaldo: 22/08/80 - Neste exacto dia, eu chegava a Guimarães, emprestado mais uma vez, para defender este inesquecível clube. Isto, foi a realização de um grande sonho, jogar em Portugal! O Sr. António Pimenta Machado, primo do Dr. Pimenta Machado (presidente do clube) funcionava aqui no Brasil, como uma espécie de representante, e tudo de bom que via, indicava ao primo presidente, foi assim que surgiu minha grande chance.

bdp: Faça um resumo da sua carreira no nosso país…
Nivaldo: Minha carreira em Portugal, não poderia ter sido melhor, na minha opinião, superou toda expectativa. Não imaginava obter tanto êxito, porém, deixo para vocês, falarem sobre meu desempenho aí.

bdp: A passagem pelo Benfica, ao contrário do que aconteceu em Guimarães, não foi feliz. O que terá falhado?
Nivaldo: O Benfica, foi o sonho que virou pesadelo, este enorme clube do futebol mundial, sonhou comigo vários anos, como eu também sonhei, no entanto, o momento que escolhemos para concretizar o casamento, foi o pior possível, neste ano (1984) o clube resolveu trazer a Portugal, o pior treinador que existia em toda Europa. Não vou perder tempo com ele, o nome dele, é Pal Csernai! Fui contratado por Eriksson, este foi para a Fiorentina, então, trouxeram esta figura em seu lugar, paciência!

bdp: Estreou-se pelo Benfica num jogo especial, logo contra o Liverpool! Que recordações guarda desse momento?
Nivaldo: Neste jogo com o Liverpool, fui escalado só na hora da prelecção, ele treinou a semana toda com uma equipe, em cima do jogo resolveu me escalar. Eu já havia entrado em outros jogos, agora, este jogo eu estreei como titular. Penso que tive um grande desempenho, as crónicas foram-me favoráveis, de minha parte, fiquei muito satisfeito com o que fiz.

NO PORTIMONENSE

bdp: Surgiu então a hipótese de representar o Portimonense. Conhecia alguma coisa do clube? Quem lhe apresentou a proposta?
Nivaldo: Quando assinei com o Benfica, o Manuel José fez de tudo para me levar para Portimão. O sonho de qualquer jogador, é um grande, por este motivo, adiei minha ida a Portimão.

bdp: É verdade que financeiramente a proposta do Portimonense superava a proposta do Benfica?
Nivaldo: Fui ganhar menos no Benfica, por ser Benfica! Eles jogam muito com isto. Acho que deve acontecer até hoje, pois, todo mundo quer jogar lá, é a maior vitrine de Portugal.

bdp: Que clube encontrou quando chegou? Era estável? As infraestruturas eram boas ou más para a época?
Nivaldo: A estrutura do Portimonense, era adequada a um clube daquele porte mesmo, nada a reclamar.

bdp: Na sua opinião quais eram as maiores dificuldades do Portimonense nos anos 80?
Nivaldo: Na minha opinião, a dificuldade do Portimonense nos anos 80, era sua posição geográfica, em se tratando de uma competição nacional, nosso time era muito prejudicado, repare que, enquanto os outros clubes, com excepção do Farense, que padecia do mesmo mal, ao se deslocar para jogar, encontrava muita facilidade, viagens curtíssimas, já não podemos dizer o mesmo da nossa equipe, eram viagens muito longas, além de se gastar muito, causava um desgaste muito grande na equipe. Vale lembrar também, que Portugal, começava seu processo de modernização no final desta década.

bdp: Nos anos em que representou o Portimonense, quais os jogadores que mais o impressionaram?
Nivaldo: Joguei 4 anos no Portimonense, neste período, passaram muitos jogadores por este clube, porém, os que mais gostei de jogar e vê jogar foram, Sorensen, grande jogador organizador de jogo e finalizador. César Brito, velocidade com habilidade, um óptimo atacante. Forbs, muito esperto e habilidoso. Cadorin, que espectáculo este jogador, velocidade natural, aquilo era nato dele, remates fortíssimos e certeiros, adorei este jogador, diferente de todos, por ser realmente diferente em tudo.
Skoda, este era um verdadeiro maestro, joguei os 4 anos ao seu lado, era muito fácil jogar com este rapaz, sabia tudo de armação de jogadas, muito bom mesmo.
Guetov, fora de série, este jogador chegou para o nosso clube, já com sérios problemas no joelho, é evidente que se este rapaz tivesse inteiro, seu destino bem poderia ser o Barcelona, em vez do Portimonense. Tinha bola de sobra para isto. A bola dele nos livres, baixava incrivelmente após a barreira, era show.

bdp: Originalmente o Nivaldo era defesa esquerdo mas poucas vezes jogou em Portimão nessa posição. Como foi a transição?
Nivaldo: Atenção para esta bomba, nunca fui defesa esquerdo na vida, jogava no Sport em 1977 e numa situação de emergência, o treinador Enio Andrade me improvisou nesta posição, o que aconteceu depois foi incrível, tive uma ascensão tão grande, que fui contratado pelo grande Cruzeiro de Belo Horizonte, joguei 4 anos nesta posição, sem ser lateral de origem ao chegar a Guimarães, o grande mestre, José Maria Pedroto, com seu olho clínico, falou, tens tudo para ser um grande médio, vou apostar em ti como médio. Eu falei: sempre fui e sempre serei um meio campista sr. Pedroto! Ele disse: então rapaz, na tua terra, os treinadores estão todos cegos, ainda bem para mim.

bdp: Manuel João era o presidente. Como descreveria a personalidade deste dirigente?
Nivaldo: Manuel João, foi um cara maravilhoso, meio folclórico, mas um grande presidente, levou o Portimonense a grande destaque no cenário nacional.

bdp: Qual o treinador do Portimonense que mais o marcou? Porquê?
Nivaldo: Manuel Cajuda, o cara é um estrategista de primeira linha, tacticamente excelente.

bdp: Em que posição preferia actuar?
Nivaldo: A minha posição preferida era trinco, tendo como segunda opção, líbero!

bdp: Sobre si, o Luciano (ex-avançado do nosso clube) disse:
“O careca mais amado deste mundo! Com Nivaldo não havia dias ruins, apresentava sempre uma óptima disposição e talvez por isso era visto como um irmão mais velho para todos nós. Sua família também se tornou na minha família. Entre os problemas que levaram o Portimonense a descer de divisão naquele ano foi a falta que o NIVALDO fez!”
Que tem a dizer sobre esta frase?
Nivaldo: Luciano, este grande amigo meu e da minha família, foi um excelente avançado, logo que chegou ao clube, deu boas indicações de que, estava ali um jogador de mais valia, naquele momento, estávamos precisando muito de um jogador com o estilo dele, caiu como uma luva na nossa equipe. Um grande amigo, tenho saudades dele.

bdp: O Nivaldo nunca foi goleador, mas marcou um grande golo em Portimão contra o F.C. Porto. Recorda-se desse momento?
Nivaldo: Este momento do gol contra o Porto, foi indescritível, lembro-me que corri o campo todo para oferecer a minha esposa Ana Rita, o jogo foi 1x1, fiz o gol do empate.

bdp: Terá sido esse o jogo que mais o marcou com a camisola do Portimonense? Ou houve outra partida que mesmo hoje ainda não esqueceu?
Nivaldo: A partida que não esqueço, foi contra o Partizan de Belgrado, vencemos por 1-0, é que eu estava praticamente chegando ao clube, havia uma expectativa muito grande, em torno do meu futebol por ter vindo do Benfica, fiz um grande jogo juntamente com os demais, fui referenciado como o senhor dos pezinhos de veludo pelo jornal, a bola!

bdp: Em campo era um líder com enorme espírito de sacrifício. Na sua opinião que outras qualidades o destacavam dos restantes jogadores?
Nivaldo: Eu, sempre tive um espírito de liderança natural, nada foi forçado, além disto, penso que minha grande virtude, era e é até hoje, respeitar muito as pessoas, ter humildade para reconhecer os erros e uma enorme personalidade.

bdp: Que recordações tem de Portimão? Que locais gostaria de rever?
Nivaldo: Olha, as recordações de Portimão, são as melhores possíveis, eu e minha esposa sempre falamos que em Portugal, se fosse para morar, a cidade seria Portimão, adoramos Guimarães, até porque um dos nossos filhos nasceu lá, mas para morar mesmo, é Portimão. Tenho ido muito a Portugal, há 2 anos estive em Portimão com meu grande amigo Zé Rebelo, agora, a cidade do meu coração, isto, eu não nego, é Guimarães!

bdp: Quais os adversários que mais trabalho lhe deram? Nem todos os atacantes eram fáceis de marcar…
Nivaldo: Jordão, Chalana, Gomes, Jaime Pacheco, Madjer (que jogador) para citar alguns, agora, o Paulo Futre, sai de baixo!

bdp: Em Portimão morou uma das maiores claques de Portugal nos anos 80 – os Marafados. Recorda-se deste grupo de adeptos?
Nivaldo: Caramba! Os Marafados, como esquecer esta claque maravilhosa, estava com a gente em todas, que época fantástica, e o nome era muito engraçado, tenho saudades.

bdp: Com que impressão ficou dos sócios do nosso clube?
Nivaldo: A impressão que tenho dos sócios, não poderia ser diferente, eu adorei tudo em Portugal sou meio suspeito para falar deste maravilhoso país, que diga-se de passagem, eu amo.


APÓS O PORTIMONENSE

bdp: Onde seguiu a carreira após o Portimonense?
Nivaldo: Após o Portimonense, joguei os 2 últimos anos no União de Leiria, onde encerrei a carreira em 1991 com 33 anos, regressando ao Brasil em seguida para trilhar uma nova vida.

bdp: Mantém-se ligado ao futebol?
Nivaldo: Actualmente, sou agente de jogadores credenciado pela CBF – FIFA sob o número 156, tenho duas empresas em sociedade com minha esposa, a SNA Viagens e Turismo Ltda, que já tem 14 anos no mercado, e a SNA Sports Ltda,que tem 6 anos trabalhando com futebol, agenciando e acessorando clubes e jogadores, inclusive, o Raphael Freitas, que vocês estão vendo ao serviço do Portimonense, trabalha comigo, portanto, fui eu quem o mandou para Portugal, assim como, o Júlio César do Santa Clara dos Açores.

bdp: No futebol fazem-se muitas amizades. Mantém contacto com alguns dos elementos que faziam parte da “sua” equipa?
Nivaldo: Todos, temos actividades diferentes, no entanto, é mais fácil se comunicar com quem está no mesmo ramo do outro. Mesmo assim, falava muito com meu amigo Cadorin, inclusive a filha dele, a Sandy, tem passado férias aqui no Brasil connosco, eu particularmente, tenho visitado muito Portugal, tenho uma enormidade de amigos aí.

bdp: Sabemos que a família do Cadorin ainda faz parte do seu grupo de amigos. Como nasceu esta amizade?
Nivaldo: Minha amizade com a família do Cadorin, é extraordinária, eu adoro aquela família.

bdp: Tem acompanhado a carreira do Portimonense nos últimos anos?
Nivaldo: Não paro de acompanhar, não só o Portimonense, mas todas as equipes deste futebol, que evoluiu assustadoramente em nível mundial, desde a década de 90.

bdp: Tem noção que actualmente continua a ser dos jogadores que melhores recordações traz aos adeptos?
Nivaldo: Olha, francamente não tinha esta noção, de ser dos jogadores com melhores recordações por parte dos adeptos, sinto-me bastante lisonjeado, não quero cometer erros, mas devo ter jogado com a camisa deste clube, cerca de 108 jogos na primeira divisão, dos quais, acho que 100 ou mais como titular, se formos contar com taça de Portugal, U.E.F.A, torneios e jogos perticulares, devo atingir mais de 150 jogos. Em 4 anos é muito bom, talvez esteja aí, o entusiasmo dos queridos adeptos.

bdp: Se um dia o convidassem para voltar a pisar o relvado do estádio, aceitava?
Nivaldo: Seria maravilhoso, voltar a pisar este relvado de tantas recordações maravilhosas.

bdp: Para finalizar esta já extensa entrevista gostaríamos que deixasse uma mensagem a todos os sócios, simpatizantes do Portimonense e leitores deste blog.
Nivaldo: Minha mensagem é, cuidem bem deste clube que já fez história no futebol português, que o povo desta cidade belíssima, se unam em prol de uma causa comum, botar novamente, o nosso glorioso Portimonense na primeira divisão, pois este, é o seu legítimo lugar.

Nivaldo acrescentou as seguintes palavras:
"Finalizo esta entrevista, agradecendo esta grande oportunidade que me deram, poder falar para o blog do Portimonense, foi simplesmente, maravilhoso! OBRIGADO...
Nivaldo Gomes da Silva, nascido em Ferreiros/Pernambuco/Brasil em 02/08/1958"