terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Entrevista com Sandy, filha de Serge Cadorin

por Pedro Azevedo "Guetov"

Desde que iniciei a minha colaboração no Blog do Portimonense, tive a oportunidade de contactar com inúmeras pessoas ligadas ao clube do meu coração que cada uma à sua maneira enriqueceram a minha vida e me proporcionaram muitos bons momentos. Um dia absolutamente sem querer tive acesso a Sandy Cadorin, filha de um dos melhores e mais carismáticos jogadores que passaram pelo Portimonense, Serge Cadorin. Temos mantido contacto e acabei por lhe propôr uma entrevista em que falaríamos do seu pai, da sua carreira no Portimonense e desta forma poderíamos assim render homenagem a um homem que ficará para sempre ligado à história do nosso clube. Serge Cadorin chegou a Portimão ainda muito jovem e tornou-se um dos avançados mais temidos pelos adversários, aliando a velocidade a uma capacidade inata de concretizar em golos as oportunidades que lhe eram proporcionadas. Alguns episódios da sua passagem pelo Portimonense já foram aqui relatados no Blog do Portimonense e perduram na memória de todos aqueles que assistiram ao seu percurso na década de 80. Serge Cadorin foi um ídolo da minha juventude e é com uma enorme alegria e com muita nostalgia que deixo o meu contibuto para preservar para sempre a memória daquele que foi sem margem de dúvidas um dos melhores jogadores que passaram por Portugal e pelo Portimonense. Ficam então as palavras da sua filha, Sandy, a quem agradeço desde já a sua colaboração, sem a qual nunca poderia ter levado a efeito este trabalho.


BdP: Gostava que me deixasses o percurso/curriculum de Serge Cadorin enquanto jogador. Sei que ainda como júnior representou o F.C.Liège dos 17 aos 19 anos, tendo aos 19 transferido-se para o Borussia de Moenchengladbach (Alemanha), onde também permaneceu por duas temporadas. Voltou ao F.C.Liège onde ficou um ano, tendo depois vindo para Portimão onde ficou as temporadas de 1983/84, 1984/85 e 1985/86. Presumo que após o acidente doméstico ocorrido no verão de 1986 tenha ficado uma época sem jogar depois de ter assinado pelo Sporting. Ingressa na Académica em 1987/1988 e regressa ao Portimonense em 1988/1989. A partir daqui já não tenho qualquer registo, será que me consegues ajudar a completar o seu percurso?
SC
: "Em 1989 voltámos para a Bélgica, tendo a minha mãe ficado grávida do meu irmão que nasceu dia 8 de Dezembro de 1988. Acabámos por ficar definitivamente na Bélgica onde o meu pai jogou mais um ano no F.C. Tongres (IIª divisão). Os meus pais começaram a trabalhar nas feiras, vendendo texteis. O négocio acabou por crescer e o meu pai deixou o Futebol."

BdP: Cadorin era natural de Stavelot. Como foi a sua infância nessa cidade belga e de que forma o futebol entrou na sua vida?
SC: "O meu pai nasceu em Stavelot mas cresceu em Rocourt (perto do F.C. Liège). O meu avô paterno também jogou Futebol no F.C. Liège e foi ele que incitou o meu pai a jogar Futebol, tendo iniciado a sua prática desde muito jovem."




BdP: Foi Norton de Matos que sugeriu Cadorin ao Portimonense. Como viveu ele esta experiência em Portugal e mais concretamente em Portimão? Como foi a sua adaptação? Será que ele manteve laços de amizade com Norton de Matos ou outros colegas com quem jogou em Portimão?
SC
: "Foi Norton de Matos que sugeriu Cadorin ao Portimonense mas acabou por ser Luciano D’Onofrio (que acabava de sair da prisão) que propõe ao meu pai ir para Portugal.
O meu pai adaptou-se rapidamente e adorou desde início a sua experiência em Portimão. Os meus pais aprenderam rapidamente a língua portuguesa e adaptaram-se muito bem, acabando por fazer muitas amizades! O meu pai manteve muitos laços de amizade, nomeadamente com Nivaldo (jogador brasileiro), o treinador Manuel José, o ex-colega Vitor Damas e muitas outras pessoas ligadas ao Portimonense e à cidade de Portimão. Foi nesta cidade que ele passou os momentos mais felizes da sua vida, acabando por ficar para sempre com muitas saudades de Portimão até o último dia da sua vida
."

BdP: A primeira época de Cadorin em Portugal foi difícil. Primeiro uma lesão e depois uma doença prolongada. Será que ele equacionou voltar à Belgica? Ou teve sempre vontade de por cá permanecer e mostrar as suas qualidades?
SC: "Ele voltou para a Bélgica para se tratar mas sempre teve vontade de voltar para Portugal e para o Portimonense. "



BdP: Tu nasceste em Portugal ou na Bélgica? Que recordações tens de Portimão, das praias e será que te lembras de ver Cadorin a jogar pelo Portimonense?
SC: "Eu nasci na Bélgica mas cheguei a Portugal com apenas duas semanas de idade ! As minhas recordações dessa época são poucas, me lembro-me desse período quando vejo as fotos ou quando os meus pais falavam comigo da nossa vida em Portimão. Não me lembro de ver o meu pai jogar pelo Portimonense mas a minha mãe contou-me que eu ia muitas vezes aos treinos com o meu pai. Lembro muito bem que eu e a minha mãe escutávamos os relatos pela rádio no apartamento quando o meu pai jogava e cada vez que marcava nós gritávamos Gooooaaaaaaalllll e saltávamos por todo o lado! Lembranças muito boas… Disto lembro-me como se fosse ontem! Incrível não é? Eu era ainda tão pequenina!!!"

BdP: O teu pai deve ter ficado com imensas recordações da sua passagem por Portugal e mais concretamente por Portimão. Que histórias costumava ele contar e quais aquelas que te recordas melhor?
SC
: "Quando o meu pai começava a falar dessa época, ninguém o conseguia fazer parar! Costumava falar dos inúmeros golos que marcava e mostrava sempre a fita (que vou te enviar para a semana!) com os jogos e reportagens em Portugal. Gostava de mostrar os artigos sobre ele publicados na Imprensa."




BdP: Outros dois jogadores chegaram ao Portimonense provenientes da Bélgica, Alain e Luciano D'Onofrio (este um ítalo-belga). O primeiro julgo que era um grande amigo do teu pai, o segundo ficou ligado a um incidente que nunca ficou bem explicado. Gostarias de deixar umas palavras sobre Alain e Luciano? O incidente ocorrido a Serge Cadorin no verão de 1986, depois de já ter assinado pelo Sporting foi apenas um infeliz acidente ou passou-se algo mais?
SC: "O Alain ficou um grande amigo do meu pai, sempre que vinha à Bégica vinha visitar-nos. Nós também o visitámos em sua casa, em Aveiro. O Alain e o meu pai tinham feito négocios juntos no final do ano passado. Quando soube da morte do meu pai, Alain voltou imediatamente para a Bélgica e trouxe um quadro do meu pai que ele tinha feito para nós! O quadro ficou lindíssimo! Luciano D’Onofrio fez uma tentiva de corrupção sobre um jogo do Portimonense contra o FC Porto (o meu pai fala disso numa reportagem que poderás ver no DVD). O incidente ocorrido no verão de 1986 foi apenas um infeliz acidente que acabou por ser dramático para a nossa família. Não se passou nada mais."




BdP: Sei que após ter abandonado o Futebol, Cadorin ficou ligado aos texteis, importando materiais de Guimarães, se não estou em erro e vendendo posteriormente em feiras na Bélgica. Sei também que ficou bem relacionado com Pimenta Machado, na altura Presidente do Vitória de Guimarães. Como surgiu esta ligação e como se passaram esses anos após o terminus da sua carreira?
SC
: "Correcto, depois ter abandonado o Futebol, o meu pai trabalhou nas feiras vendendo texteis com a minha mãe. A ligação com Pimenta Machado surgiu atravês do jogador belga ligado ao Vitótoria de Guimarães, Patrick Asselman. O meu pai trabalhou para o Vitória de Guimarães, como olheiro, indicando jogadores e fez também algumas transferências de jogadores para o Marítimo. Os anos passados na Bélgica, após o final de carreira do meu pai, foram passados a trabalhar nas feiras. Voltámos algumas vezes a Portugal de férias. O meu pai tinha sempre vontade de ir passar férias a Portugal!"

BdP: Como acompanhou Cadorin o Futebol português após ter regressado à Bélgica? Com quem manteve contacto? Se acompanhou sempre a carreira do Portimonense e como assistiu ele à queda do clube nas divisões secundárias?
SC: "O meu pai ligava muitas vezes aos seus amigos de Portugal (nomeadamente Manuel João). Ele teve muita pena da queda do Portimonense."


BdP: Cadorin chegou a regressar a Portimão de férias ou a convite de alguma Direcção do Portimonense? E tu também já chegaste a voltar a Portugal e ao Algarve? Que recordações guardas tu deste local?
SC
: "Nos voltámos muitas vezes a Portugal de férias. O meu pai queria sempre voltar a este país que adorava! Era o país dele, o país do coração dele! A última vez que eu fui a Portugal foi em Agosto de 2005 com a minha mãe e o meu irmão. O meu pai não foi dessa vez porque era a temporada alta nas feiras e tinha que ficar na Bélgica para trabalha. Mas voltou sózinho de férias também! Nós fomos convidados muitas vezes pelos amigos do meu pai. Tenho um monte de recordações de Portugal… Nem sei contar quais me marcaram mais !!!"


BdP: Na tua opinião, neste momento, se fosse vivo, o que é que o teu pai gostaria de dizer, de comentar sobre o Portimonense, que nunca o tenha feito em vida?
SC
: "O meu pai simplesmente adorou Portugal e o Portimonense. Tenho a certeza que teria adorado passar os últimos momentos da vida dele neste país. Não sei o que ele poderia dizer agora que não tenha dito em vida porque falava sempre do Portimonense com muita adoração e paixão. Ele deve ter ficado muito triste da queda da carreira dele derivado do infeliz acidente."

BdP: Após encerrar a carreira Serge Cadorin ficou de alguma forma ligado ao Futebol? Ou apenas acompanhava o fenómeno futebolístico enquanto espectador?
SC
: "Ele acompanhou o Futebol apenas enquanto espectador. O meu pai teria gostado que o meu irmão jogasse futebol como ele, o que não veio a acontecer, por falta de vontade deste último."



BdP: Para o teu pai qual foi o ponto alto da sua carreira? O tempo que passou no Portimonense e os golos que marcou? Ou as 37 vezes que foi Internacional pela Bélgica em Juniores e as 7 pela Selecção de Esperanças?
SC
: "O ponto alto da carreira do meu pai foi a época antes do acidente quando era solicitado pelos grandes clubes de Portugal. A melhor época da vida do meu pai foi o tempo que passou no Portimonense e claro, os inúmeros golos que marcou."








Para a Sandy Cadorin e para a sua mãe deixo o meu agradecimento por terem aceite o meu convite. Posso adiantar que a Sandy respondeu a todas as perguntas em português.

Serge Cadorin continuará para sempre vivo na minha memória, marcando muitos golos e contribuindo para alegria de todos os Portimonenses. Nunca serás esquecido!

12 comentários:

Ivo Martins disse...

embora nao o conhecendo, sei por palavras de apaixonados por este clube, que foi 1 grande jogador, e esta é uma bela homenagem a uma grande figura que perdurará para sempre na história do psc.
Bom trabalho Guetov, e 1 palavra de agradecimento a filha e mulher de Serge Cadorin.

Anónimo disse...

Grande amigo e jogador!!Estara sempre no nosso coração.Um grande abraço do pessoal do MANÉ para a familia do CADORIN .

Paulo disse...

Parabens Guetov pelo magnifico trabalho desenvolvido, sinal de grande dedicação a uma causa, causa essa que tem um nome, PORTIMONENSE.
Quanto ao Cadorin, nao é do meu tempo, mas consegue-se, lendo este post, ficamos ilucidados da sua dedicação e amor pelo Portimonense.
Todos os jogadores de hoje deveriam ler este post e refletir sobre o que é o futebol, que não são so os bons contratos, os bons salarios, tambem há o clube, as pessoas que sofrem quando se perde, que deliram a cada golo marcado por um jogador, até que mal amado dentro da massa adepta, enfim uma mistura de sentimentos levados ao extremo, assim é, ou deveria ser o futebol.
Á familia Cadorin, o nosso obrigado pelas palavras simpaticas e maravilhosas com que descreve o Portimonense, Obrigado.
Bom ano para todos.
Força Portimonense.

Anónimo disse...

acompanhei a carreira de cadorin em portimão,e digo com toda a certeza que foi o melhor avançado que passou por portimão e talvez por portugal e isso prova-se pelos golos marcados e pelos jogos espectaculares que fazia,posso vos dizer mais, nessas epocas eu trabalhava na antiga discoteca do hotel jupiter e ao sabado o cadorin e o vitor damas lá estavam antes dos jogos e o certo era que nós ganhavamos sempre os jogos,mesmo bebendo bom wishky.só queria que os actuais jogadores do portimonense tivessem eles como exemplo,e corressem metade que eles corriam,bom ano para todos.

Anónimo disse...

Falta uma parte na entrevista: o Alain era o anjo da guarda do Cadorin e ia buscá-lo ás discotecas ás 4 da manhã na véspera dos jogos. Quando o Cadorin aparecia com os olhos vermelhos no campo e tinha bebido uns copos marcava sempre... Foi um grande jogador, mas os excessos impediram-no de chegar tão longe quanto as suas qualidades justificavam. Uma espécie de James Dean do Portimonense...

Anónimo disse...

Gostaria de deixar aqui bem claro a minha homenagem ao Cadorin. Grande senhor do futebol e segundo fui informado um individuo que metia a sua casa na Bélgica á disposição de amigos Portimonenses que por lá passavam. Para ele e para a família eterna gratidão pelo facto de existirem pessoas assim. Quanto ao plano actual desposrtivo, creio vivemente que não existe, e não pode existir em todo, pois não há interesse. Vou ser mais claro: O PORTIMONENSE NÃO EXISTE COMO CLUBE. Jurei nunca mais entrar num campo de futebol desde a altura em que descemos de divisão, posteriormente nunca mais fomos capazes de subir. Lamento o facto de tratarem o Portimonense como mais uma associação. O Portimonense tem que ser visto como um clube que representa uma cidade e não um clube representativo de alguns.

P. disse...

Arrepiante o dia em que Cadorin voltou a pisar a relva do nosso estádio após o acidente. Estádio cheio. Todos de pé. Cadorin no centro do relvado a sorrir.

Sandy disse...

Adorei a entrevista, ficou emocionante com as fotos...
Eu e minha mãe adoramos a atenção de todos vocês... Obrigada pelos comentários e pensamentos pelo meu pai! Estamos felizes de saber que vocês nunca esqueceram do CADORIN que era um jogador excepcional e um pai maravilhoso!!!
Agredecemos vocês todos!!!

Sandy

P. disse...

Grande Sndynamite :)

Great_duke disse...

Tomei agora conhecimento desta entrevista. Cresci em Portimão a ver o futebol precisamente na década de 80. Posso confirmar que Cadorin foi o melhor avançado que passou por aquela casa durante todos aqueles anos. Era mortífero: corrida e à primeira oportunidade um tiro imparável para a baliza.
Guardo também a lembrança dele ser rebelde, mas qual é o génio que não tem em si os genes da rebeldia.
Será sempre lembrado com saudade e amizade pelos Portimonenses do meu tempo. Foi um ídolo e foi, de facto, uma grande tragédia o que lhe aconteceu quando iria mostrar o seu futebol num patamar superior.
Creio que o Sporting e a Académica também devem ser realçados por lhe terem dado uma oportunidade quando ele já não era o jogador de antes do acidente.
Fico muito feliz por saber que o Cadorin passou os melhores anos da sua vida em Portugal, que continuou ligado ao nosso país e que a sua família guarda boas recordações desses tempos e ainda mais porque a sua filha se disponibilizou a dar esta entrevista e em português (grande Sandy).
Um grande abraço para a família Cadorin que, espero, sabe bem o quanto o Pai Serge era apreciado não só em Portimão, mas em todo o país.

Anónimo disse...

Gostava só que na inauguração do nosso estádio tivessem presentes tanto a filha do Grande Cadorin como o grande Guetov merecem a grande homanagem da nossa parte, sem esquecer os portugueses Norton de Matos, Vitor Oliveira e claro o nosso grande Mister Manuel José acho que é tempo do convite sair da gaveta do nosso Presidente Cumprimentos para todos

Anónimo disse...

Gostava só que na inauguração do nosso estádio tivessem presentes tanto a filha do Grande Cadorin como o grande Guetov merecem a grande homanagem da nossa parte, sem esquecer os portugueses Norton de Matos, Vitor Oliveira e claro o nosso grande Mister Manuel José acho que é tempo do convite sair da gaveta do nosso Presidente Cumprimentos para todos